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Desde pequenos nos acostumamos com aquela marquinha esbranquiçada que ficava na parte de baixo dos potes, nas quartinhas, nos filtros, nos rodapés das paredes ou em qualquer lugar onde houvesse umidade. Era o sal se entranhando nos objetos e nas nossas vidas. Quase nada resiste à sua ação lenta, silenciosa e destruidora.

 Nas várzeas, caminho natural das salinas, em qualquer baixa do terreno, era só chover e, algum tempo depois, lá estava ele, o sal, com sua brancura, dominando o local, substituindo ou expulsando a água que há alguns dias ali existira, fruto das chuvas passageiras que nos verões quentes desabavam sobre o chão salitrado dos arredores de nossa cidade, onde o trovão ribombava nas gamboas, e os relâmpagos rasgavam o céu na noite escura, e seu eco ricocheteava nos manguezais e despertava os caranguejos, para a fúria dos guaxinins, na espreita para pegá-los.

 Poucos seres vivos conseguem resistir ao ambiente dominado pelo sal, com sua brancura, sua dureza e seu caráter inóspito, desprovido de qualquer delicadeza. O seu brilho de cristal maltrata a vista, sua salmoura corta, fere e queima, seu sabor é forte, mas, se bem dosado, maravilhoso.

Mas a vida sempre arranja um modo de vencer todas as barreiras, nos mais variados climas e condições de vida, e aí surgem os maçaricos, com suas perninhas de palito, teimando em sobreviver junto com os perrexis (planta estranha; pronuncia-se pirrixil e tem o nome científico de Crithmum maritimum) e outras plantinhas rasteiras, e, aqui e ali, a sempre verde, esquisita e intrigante rosa cera.

Conheci a famosa mina de sal gema de Wieliczka, na Polônia – fica próximo ao campo de concentração de Alschuitz, de triste lembrança. O sal de lá não é somente branco, mas bege, amarelo, azul, vermelho e escuro, sendo retirado de grandes profundidades, formando verdadeiras cidades subterrâneas. Nessa mina, a quinhentos metros de profundidade, existe um hospital para tratamento de doenças pulmonares, porque o ar que circula no local é considerado o mais puro do mundo, sendo frio e constante.  Em Wieliczka não existem montanhas de sal, mas os objetos e utensílios também têm aquela marquinha esbranquiçada na parte de baixo. Um potinho de sal que eu trouxe está todo branquinho por fora.

Nos supermercados, em qualquer lugar do Brasil e em muitos outros no mundo, ao examinarmos um pacote de sal, lá está escrito: NORTE SALINEIRA S/A IND. E COM – NORSAL. Rodovia BR 110 km 1- Zona Suburbana – Areia Branca-RN, e isso nos enche de orgulho.

Areia Branca, a cidade do sal, tem histórias bonitas e tristes em relação ao seu principal produto de exportação. Desde o tempo em que as salinas eram exploradas de forma rudimentar, suas montanhas de cristal encantam a todos, gerando trabalho, desenvolvimento e esperança.

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