No ano de 1961, foi anunciada uma luta de vale-tudo envolvendo um lutador de Natal, que não lembro o nome, e um lutador de Areia Branca. Estou em dúvida se essa luta, de fato, aconteceu em Areia Branca ou em Macau, onde morava Francisco, meu irmão caçula. Mas vale a pena ser contada, pelo inusitado do desfecho.
Foram colocados avisos dessa luta nas paredes das lojas, no muro da prefeitura e nos arredores da pracinha. A cidade se preparou para o grande evento. Também não lembro o nome do lutador de Natal. Sei que havia dois lutadores famosos, Aderbal e Bernardão.
No dia do evento, muitas pessoas se dirigiram para o local do embate. O tatame, que fora improvisado com algumas cordas cercando o quadrilátero, era forrado com uma camada de serragem de madeira colocada sobre o cimento e coberta com uma lona, em uma alarmante e perigosa improvisação, patente em cada detalhe, assim como o desconhecimento das regras de segurança.
As pessoas, de pé e espalhadas em torno do tatame improvisado, aguardavam com grande ansiedade o início da luta. Aguardaram cinco minutos depois da hora marcada (19hs), e o lutador local não aparecia. Ao lado do tatame, o lutador de Natal se exibia junto do seu empresário, com movimentos provocativos. E o lutador local não dava as caras por ali.
Decorrido um bom tempo do horário marcado para o início da luta, e o lutador local não aparecendo, as pessoas presentes começaram a se irritar, e a gritaria tomava conta do ambiente. É marmelada!!! É enrolação!!! Quero meu dinheiro de volta!!! E o clima de hostilidade foi se elevando.
A certa altura, tendo passado meia hora do horário, um homem sacou de uma faca e, aos gritos, obrigou o lutador a entrar no tatame e lutar com seu empresário. Apesar das desculpas do empresário, os dois foram forçados a lutar. Bofete pra lá, chute pra cá, queda de um lado. O lutador, depois de algum tempo, perguntou se a plateia estava satisfeita, e a resposta foi não. Depois de muitas bofetadas e do empresário machucado, a luta foi encerrada.
Em dúvida, liguei para meu irmão Francisco, que morou em Macau naquela época, e ele me confirmou que essa luta aconteceu no ano de 1961, na quadra de esportes do Colégio do Padre Penha, naquela cidade.
Luta de Vale-Tudo, mas tudo mesmo.
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EvaldOOliveira
Sócio Correspondente do Instituto Histórico e Geográfico do RN
3 comentários
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outubro 10, 2020 às 9:34 am
Jerônimo
Eu gostava muito de ver as revistas/album de luta-livre. Depois o programa de televisão – os reis do ringue. Tele catch com Ted Boy Marinho. E naquele tempo todos gostavam de assistir os shows de luta livre que as vezes os lutadores faziam em ringue improvisados em praça pública para atrair pessoas para o show principal que era em um clube ou circo. Eu assistir um show desse ao vivo em um circo que anunciou Ted Boy Marinho que não apareceu; quem apareceu foi um sósia. Mas não foi em Areia Branca.
Havia o Ted Boy Marinho como o mocinho, e os vilões como, a múmia, montanha, fatastama, king kong e muitos outros.
Como em Areia Branca era comum ser anunciado uma apresentação e fazerem outra, mesmo assim os telequetes que assistir foi muito legal, as lutas pareciam reais; agora não tem mais; na televisão existe o que tirei de um quadrinho do Kalvin do jornal “o Estadão”: ” Oh divindade do entretenimento PASSIVO, derrama sobre mim tuas imagens conflitantes em velocidade tal que torne o raciocínio impossível”.
outubro 15, 2020 às 9:18 am
Jerônimo
Hoje dia do Professor. Parabéns aos professores e professoras.
novembro 22, 2020 às 11:26 am
Francisco das Chagas de Brito (Chico Brito)
Tenho uma vaga lembrança dessa luta! Em maio 1961, eu acabava de voltar do Colégio Marista em Natal, devido ao falecimento da minha mãe. Na época era de luto fechado. Diversão só depois de um ano de luto. Mas, ouvi falar dessa luta que não existiu.
Deus nos abençoe e proteja.