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Ricardo Dimas, neto de Seu Dimas Ramos, não nasceu em AB, mas tem uma memória e uma saudável nostalgia dignas de um filho da terra. Tudo isso fruto de suas visitas durante as férias escolares da sua feliz adolescência. O comovente relato a seguir, alinhavado em texto de alta qualidade, tem valor histórico e sentimental merecedores de leitura por quem já passou dos 50 anos, para lembrar e deixar lágrimas correrem, e por quem tem menos de 40 para continuar com o pé na terra natal. Não tenho dúvida, esse texto vai tocar no coração de todos. Fica aqui meu registro pessoal: lamento profundamente não ter podido acompanhá-lo nessa viagem. (Carlos Alberto).
Luis Lourinho foi o maior jogador na ” Sinuca do Sr. Chico Amaro “, na década de 70. Não tinha adversários; tinha sim, vários admiradores. Quando eu lá adentrava, corria os olhos pra ver se o Luis se encontrava. Era show grátis do dia ! Ele era como os atores de Hollywood vistos no Cine Miramar e São Raimundo, respectivamente. Tinha o rosto de galã, porte invejável, forte, pele branca, bronzeada pelo sol. Era também extremamente elegante no vestir, andar e nos gestos. Manejava o taco com maestria. Passava o giz azul na ponta do mesmo e o branco ao longo dele. Vê-lo assim, era como um enamorado acariciando sua amada, devido a suavidade nos movimentos. Interessante era as partidas dele contra o Nilton Mariano, filho do meu tio Luis Mariano. As vezes corria uma aposta em dinheiro, pra quebrar a rotina, como também um cachê extra. Afinal não ia desperdiçar seu maravilhoso talento, que merecidamente se devia cobrar ingresso para vê-lo jogar.
Meu primo ? Nem preciso dizer que, quando muito, ganhava uma partida, entre dez pró Lourinho. Como que um gol de honra, numa partida de futebol perdida. O Loiro relaxava e se deixava ganhar. Vale ressaltar que ambos tinham um código secreto. Chegando alguém ” de fora “, desconhecedor da realidade, mostrando-se muito interessado em participar das apostas ? Luis misteriosamente jogava mal e até perdia. O desavisado logo apostava no taco de Nilton. Coitado do forasteiro…Lourinho mostrava toda sua força máxima ! Como Sansão, Maciste ou Hércules. Dava o seu espetáculo particular, arrasando meu primo e não deixando nenhuma dúvida de quem era o rei do estabelecimento. A platéia assistia calada como num Tribunal do Jurí. Todos nós tinhamos vontade de aplaudir e nos contentávamos interiormente. Regras do jogo.
Houve um torneio aberto naquela época. Pena que não vieram os ” Rui Chapéu” da Região Sudeste. Iam todos sofrer vergonha. Luis ” cantava a bola da vez ” : ” essa bola vai bater alí na tabela, vai resvalar pra cá e vai cair na caçapa “. Bingo ! Não dava outra. Luis Lourinho, campeão invícto !
O texto apresentado a seguir foi postado como comentário à crônica de Marconi e Marcelo Dutra, sobre a Escola Santa Terezinha. Causou tanta impressão em Marcelo e em mim, que decidimos publicá-lo como uma crônica. Temos razões para assim proceder:
- Trata-se de um texto com uma extraordinária carga emocional. A publicação aqui é uma homenagem à autora e seus amados antepassados.
- Publicado com a devida contextualização, que faremos após o texto e que esperamos ser complementados com comentários de outros visitantes do blog, sobretudo de Antônio Fernando Miranda (que memória ele tem!), se constituirá em importante documento a respeito de uma parte da vida e do espaço urbano na Areia Branca dos anos 1950. Para elaborar a contextualização, mantivemos contato com a autora, por intermédio do correio eletrônico.
- Finalmente, uma motivação acadêmica. Esse tipo de iniciativa que estamos empreendendo tem um potencial histórico e sociológico fantástico. Uma pessoa lá nos EUA, encontra-se virtualmente com outras, umas aqui outras acolá para reconstituir uma parte da história que de outro modo ficaria perdida após a morte desses correspondentes. Agora, esses fatos estão registrados. É verdade que com a peculiar perspectiva de Dodora, mas trata-se de uma peça importante no quebra-cabeça histórico.
O texto de Dodora
Eu nasci em Areia Branca em 1938.
Minha familia mudou para o Rio de Janeiro quando eu tinha 11 meses de idade(a minha mae foi na frente para morar com uma irma e arranjar emprego) mais com a minha querida e saudosa Avo voltei a Areia Branca 8 vezes .
A historia da minha familia e enorme , pois a minha avo casou duas vezes e teve 17 filhos todos nascidos em Areia Branca.Muitos morreram.
Mais a unica da familia que sempre ia a Areia Branca e sempre me levava era a minha avo.
O nome dela era Josefa Bernardo da Costa e tinha um marido que bebia muito e que fiou em Areia branca .O Pedro. Ele faleceu em 1964 ou 1965
Ela contava que quando chegava de navio .O navio ficava ao largo e ela descia em uma escada de corda comigo no colo, depois pegavamos um barco e saltavamos no cais.
Os filhos nao tinham muito orgulho do pai e por este motivo se desgostaram e nunca mais quiseram voltar.
No Ano de 1952 voltei a Areia Branca e fiquei 2 anos so retornando ao Rio de Janeiro em Maio de 1954.
E este e o periodo que quero relatar.
Conheci a Areia Branca que so tinha um cinema .Nao lembro do nome. ,mais era localizado na rua do meio quase em uma esquina Foi la que vi o filme SanSao e Dalilah .
Naquela epoca as unicas ruas que se podia caminhar e que a areia nao tomava conta era a rua da frente, rua do meio, e o jardim (assim que chamavam a pracinha)
Foram os melhores dois anos da minha vida.
Brinquei Carnaval no baile da Prefeitura,
Dancei pastoril(Era do cordao encarnado)
Corri para a Ilha quando todos corriam quando chegava um elicoptero na cidade que era coisa rara.
Namorei varios rapazes e por um eu era apaixonada.
O nome dele era Titico e quando estavamos namorando(imagina com 15 anos )a familia dele mandou ele para Mossoro ou Natal .Nao lembro.
Creio que para servir o exercito e estudar.Quase morri.
E ele fez uma linda Serenata para mim.Inesquecivel para uma menina de 15 anos que morava no Rio de Janeiro onde nao existe estas maravilhas.
Ele ainda voltou a Areia Branca 1 vez e depois nao tive mais noticias.
Mais era gostoso namorar em Areia Branca.
Os rapazes ficavam encostados nos postes do Jardim e as mocas ficavam dando volta no Jardim(a praca em enter a Igreja e Prefeitura) ate que um encostava, como chamavam naquele tempo.
O autofalante da Prefeitura tocaca sempre aquela musica .
India Teus cabelos nos ombros caindo.Negros como a noite que nao tem luar………………………………………..
Fiz o que uma jovem na minha idade em Areia Branca fazia sem me machucar moralmente. Aproveitei a minha mocidade.
Fugia aos Domingos para ir dancar nas valsas da rua de traz(lugar proibido naquele tempo, pois nao ficava bem uma moca de familia ir para a rua de traz.
Sei que estudei no periodo que estive em Areia Branca mais nao consigo lembrar do nome da professora.
Tambem eu nao estava muito interessada pois sabia que ia voltar para o Rio de Janeiro,.
Me lembro que uma vez me disseram que eu tinha que ir cantar no cinema, pois iam vender ingresso, para levantamento das obras de caridade para comecarem os alicerces do primeiro Hospital em Areia Branca.O cinema ficou superlotado.
Fui candidata a rainha de algunha coisa que tinha a ver com o pastoril e ate venderam as minhas fotografias em um vestido londo .
Mais nao ganhei. Na ultima hora a outra candidata coldocou todos os votos e ela foi coroada.
Nao lembro do nome da minha oponente.
Mais uma coisa ela nem ninguem conseguiu tirar foram as memorias maravilhosas que tenho desta cidade.
Uma das musicas que fizeram para eu cantar comecava assim
O MINHA AREIA BRANCA TERRA TAO QUERIDA .
DE TODOS OS TEUS FILHOS TU ES DOCE GUARIDA
FICARAS ETERNAMENTE EM NOSSOS CORACOES………………………
E assim foi.Ficou eternamente no meu coracao.
Voltei para o Rio de Janeiro em 1954 e casei em 1958 .
Tive dois filhos e no ano de 1971 mudamos para os Estados Unidos.
Completamos Outubro ultimo 50 anos de Feliz casamento.
Mais voltarei a Areia Branca ,Meu filho ja me prometeu.
Pena que algunhas das pessoas que tenho memoria e que lembro os nomes que a vovo comentava sempre historias das comadres e compadres, com certeza nao estao mais nesta terra.
Alguns dos nomes mencionados eu lembro bem.
Dna Ritinha e Dr Gentil.
Joao da Quidoca, eu lembro que vovo era muito amiga da Dna Quidoca e que tinha alguns filhos, e filhas.
Sei que eu tinha uns padrinhos que moravam em uma casa muito grande na rua do meio, e que os fundos da casa dava para a rua Silva Jardim e eu sempre ia na casa deles e entrava pelo portao dos fundos pois moravamos na Silva Jardim.
Eles tinham bastante filhos, mais infelizmente nao lembro do nome deles.
As meninas eram muito boas e amigas.
Eu adorava jantar na casa deles, a comida era uma gostosura.
Tinha uma senhora muito bonita que morava na rua da frente, eu penso que o nome dela era Maria Dehil., que foi muito boa comigo e era ela que me ajudava com as fantazias do pastoril.
Ela era envolvida com a igreja, e todas as nossas festas eram com objetivo de levantar dinheiro para o hospital
Quando eu estava em Areia Branca houve uma tragedia.
Uma familia muito boa que morava na Rua Silva Jardim tinham dois filhos homes eu penso que tambem tinham mocas.
Eram mais velhos do que eu .
Sei que a historia era que um dos filhos estava namorando uma mulher casada e o marido descobriu saiu uma briaga e um dos irmaos que nao tinha nada a ver com coisa atirou no marido de infiel.
Foi uma tristeza total, porque o que atirou era considerado uma pessoa calma ,incapaz de matar uma mosca.
Nao sei em que ficou a historia, pois como disse voltei para o Rio de Janeiro.
Outra coisa que eu adorava em Areia Branca era o dia de malhar o Juda.
Aquela historia que a gente tinha que ficar a noite toda acordada velando o juda para ninguem roubar o bendito.Era fabuloso.
Aquilo era genial.
Imagina que quando voltei ao Rio que tentava contar as minhas amigas ninguem acreditava.
Bem Adorei ver o que voces escreveram sobra a minha querida Areia Branca.
Para mim uma surpresa maravilhosa.
obrigada pelas boas fotografias.
E exatamente o que tenho na minha memoria.
Espero que quando volte ,nao encontre tao diferente.
Adoro esta terra do jeito que ela e.
Dodora
Nossa contextualização (as fotos aqui apresentadas são de Antônio do Vale)
Com o croqui da Areia Branca de 1930, que Deífilo Gurgel colocou em seu livro, Areia Branca. A terra e a gente, montamos o espaço Dodora.
Dodora diz: “Sei que eu tinha uns padrinhos que moravam em uma casa muito grande na rua do meio, e que os fundos da casa dava para a rua Silva Jardim e eu sempre ia na casa deles e entrava pelo portao dos fundos pois moravamos na Silva Jardim.”
Provavelmente Dodora morava na altura do ponto indicado pela casa. Os padrinhos que ela se refere deve ser Celso Dantas e sua esposa (como era seu nome?), que moravam em um verdadeiro palacete (veja foto abaixo), próximo ao Cine Cel. Fausto, na época o único cinema em Areia Branca. Poucos anos depois seria instalado o Cine São Raimundo, próximo ao ponto onde anos depois foi construída a Maternidade sarah kubitschek. No início dos anos 1960 foi construído o Cine Miramar, na rua do Meio, atual Cel. Fausto.
Seu avô Pedro era uma personagem bem conhecida. Lembro bem de meu pai mencionando seu nome, “Pedro de Zeja”, mas não lembro sobre o que ele falava.
“Ela contava que quando chegava de navio .O navio ficava ao largo e ela descia em uma escada de corda comigo no colo, depois pegavamos um barco e saltavamos no cais.” Dito assim, parece que o navio ficava ali perto. O navio ficava na costa, como se dizia. Ou seja, em alto mar. Para chegar até o cais era uma aventura. Era tão longe, que do cais víamos apenas as silhuetas dos navios.
Aliás, há uma historinha muito interessante a esse respeito. Havia em mentiroso “profissional” em Areia Branca. Não lembro o nome, mas presenciei algumas das suas mentiras, no Armazém de Antônio Calazans. Ele adorava mentir, acho que só para ver a reação dos incrédulos. Uma vez estávamos no cais, ele e um monte de jovens e adolescentes. Daí ele diz: Tá chegando um navio japonês. Imediatamente alguém retrucou: Como é que você sabe que é japonês? Ora, pelo nome! Isso é que era vista telescópica.
Dodora, olhaí o Cine Cel. Fausto, onde você assistiu “SanSao e Dalilah”.
“Namorei varios rapazes e por um eu era apaixonada.
O nome dele era Titico e quando estavamos namorando(imagina com 15 anos )a familia dele mandou ele para Mossoro ou Natal .Nao lembro.
Creio que para servir o exercito e estudar.Quase morri.”
Quem era Titico?
Dodora me informou que: “ele era alto, claro com cabelos escuros. Ele morava na rua que creio posso chamar da Rua do Meio, pois era a continuacao da Rua do meio . Se voce estiver em frente a prefeitura olhando para a direcao do mar e da Igreja e a rua que vai sem sentido direito. A casa deles nao era muito perto da prefeitura“.
Por esta descrição deveria morar depois da casa de Antônio Noronha, em direção à travessa dos Calafates.
“O autofalante da Prefeitura tocaca sempre aquela musica . . “. As músicas que tocavam nos autofalantes dos cinemas merece um texto especial.
“Quando eu estava em Areia Branca houve uma tragedia. Uma familia muito boa que morava na Rua Silva Jardim tinham dois filhos homes eu penso que tambem tinham mocas. Eram mais velhos do que eu. Sei que a historia era que um dos filhos estava namorando uma mulher casada e o marido descobriu saiu uma briaga e um dos irmaos que nao tinha nada a ver com coisa atirou no marido de infiel. Foi uma tristeza total, porque o que atirou era considerado uma pessoa calma ,incapaz de matar uma mosca. Nao sei em que ficou a historia, pois como disse voltei para o Rio de Janeiro.”
Alguém lembra dessa história? Eu lembro de um assassinato bárbaro na Silva Jardim, mas acho que foi alguns anos depois, aí por volta de 1957.