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Na correria que um lançamento de livro determina, a atenção do autor vê-se em dificuldades. São pessoas chegando e saindo, são nomes e sobrenomes a que ele deve estar atento, é o espumante sendo servido aos convidados, os aconchegos, os abraços simples, os abraços quebra-ossos, os apertos de mãos. Ali, o berçário de rememoração de antigas lembranças.

De cabeça abaixada, senti uma sutil energia acomodando-se ao meu ser, sem o tom dos sentidos naturais, mas como uma sensação diferente, algo que nos toca de leve, como uma sensação de presença, de difícil conceituação. Ergui a cabeça e vi-me diante de um sorriso afável, reforçado pela elegância de uma senhora. Era Deífilo Gurgel acompanhado de Zoraide, sua esposa. Vieram engrandecer aquele evento em que o congraçamento amalgama-se com a de tensão. Quem já lançou um livro sabe do que estou falando.

Reportando-me a lançamento de livro, lembro de uma professora universitária de Brasília que foi lançar um livro em São Paulo, em uma livraria do centro. Tudo preparado, convites expedidos, garçom a postos e… ninguém apareceu. Nem um convidado.Deífilo

Naquele momento, em Natal, um autógrafo para um escritor, conterrâneo, amigo e primo, como escreveu o próprio escritor e poeta maior de Areia Branca em sua dedicatória, ao me entregar o livro Areia Branca a Terra e A Gente no longínquo ano de 2003, em sua casa.

Dedicatória

O maior escritor e poeta de Areia Branca. Leveza na alma, sutil na chegada, suave na conversa.

EvaldOOliveira

Sócio Correspondente do Instituto Histórico e Geográfico do RN

 

Esse texto é uma requentada de outro com mesmo título, escrito em 2004. Não lembro se, e onde o publiquei naquele ano, mas em 2008 ele foi publicado aqui (https://areiabranca.wordpress.com/2008/05/02/nos-de-macatuba-eles-de-amarcord-2/). A presente versão foi publicada na terceira edição de O PIRATA – Jornal Cultural da Ilha da Maritacaca, lançado no dia 11 de agosto de 2012 no Centro de Exposições e Eventos de Mossoró – Expocenter, durante a 8ª Feira do Livro de Mossoró.

Areia Branca é como qualquer cidadezinha de qualquer parte do mundo. Com seus personagens típicos em quase tudo similares. Basta repassar a literatura e o cinema para verificarmos conexões comportamentais entre sociedades sem qualquer conexão geográfica. Minha referência neste assunto é o filme Amarcord (http://pt.wikipedia.org/wiki/Amarcord). A Amarcord de Fellini está para Macatuba, a cidade imaginária de Tarcísio Gurgel (irmão de Deífilo), assim como Rimini está para Areia Branca. Sempre que encontro Tarcísio Gurgel esqueço de lhe perguntar se Macatuba é Mossoró ou uma mistura de Mossoró com Areia Branca, e quanto de realidade existe nos seus personagens. Embora satisfaça minha curiosidade, esse tipo de informação tem pouca importância para o que escreverei a seguir. Obra de ficção ou relato real sempre toma as cores que o nosso cérebro determina. Tem a obra do autor e a obra do leitor. As duas podem ser, e usualmente são muito diferentes.

É por isso que Amarcord e Macatuba se me apresentam como Areia Branca, pelo menos no universo de alguns de seus marcantes personagens. Aqui, desse lado de cá do equador não temos as estações climáticas tão demarcadas como na terra de Fellini, de modo que jamais teríamos em Macatuba a cena inicial de Amarcord, onde se festeja o fim do inverno e o início da primavera, mas a passagem do transatlântico naquela parte do mar adriático não poderia ser substituída pela chegada do hidroavião no rio Ivipanim? A propósito, as filmagens marítimas exploradas por Fellini são emocionantes. Um dos ângulos do transatlântico é de uma beleza extasiante. Deixaria Toinho do Foto de queixo caído. Alguns ângulos da água me fizeram retroceder aos banhos na maré. A tonalidade e a leve ondulação da água são idênticas!

Agora, o entorno social tem todos os ingredientes comuns às duas cidades. Em Areia Branca também não tínhamos uma diva do amor, que habitava os sonhos de homens de todas as idades, como a Gradisca de Amarcord? E também não tínhamos uma gostosa como Volpina, que todo possuidor de testosterona desejava? E os bobos, sujeitos às não raras perversas gozações dos malvados?

Não tínhamos a presença do fascismo de Mussolini, como os habitantes de Amarcord, mas, pelo menos a geração dos anos 1940 pode testemunhar eventos dolorosos e mostrar cicatrizes da ditadura militar implantada em 1964. Nossas referências nos bancos escolares não tinham ligação com a nossa história sócio-política, mas tínhamos o famoso e festejado rigor disciplinar da professora Geralda Cruz, para citar apenas um ícone da nossa educação.

Amarcord tem um farol, como na praia de Upanema. Em Amarcord os meninos sacanas incomodam o ceguinho que toca acordeon e roubam-lhe a bengala. Em Areia Branca a meninada traquina infernizava Casca-de-ovo, um doidinho manso que adorava acompanhar procissão. Consta que certa vez entoava-se na procissão “o meu coração é só de Jesus, a minha alegria . . .”. Nesse exato momento alguém gritou “Casca-de-ovo!”. A resposta irada saiu na hora, na sequência e no embalo da música “. . .é o cu da mãe”. Em Amarcord, Bischaine, o vendedor bobo-da-corte, mente feito nosso Chico Pavão.

Em Amarcord os adolescentes masturbam-se em grupo, no interior de uma garagem. Em Areia Branca,… ah, se o Campo da Saudade falasse! Era este o nome do campo de futebol da cidade até o início dos anos setenta. Tinha esse nome porque era ao lado do cemitério. Ali, nos anos 1960, havia campeonatos de esperma à distância. Depois, todo mundo ia alegremente jogar futebol, ainda com testosterona à flor da pele.

Tem uma cena em Amarcord em que vários rapazes simulam danças com suas desejadas. Isso a gente não fazia em Areia Branca, pelo menos não na presença de outros, mas, devo confessar que na solidão do meu quarto dançava embalado pelos braços imaginários da tão sonhada amada, ao som de um desafinadamente balbuciado besame mucho.

Em Amarcord há uma corrida automobilística noturna, uma epopéia no imaginário Felliniano, tal qual poderíamos fazer com a aventura de Toinho de Eneas pedalando, sem parar, 72 horas na praça do Tirol, apenas ingerindo líquidos. Se bem documentado, só aquilo daria um filme. Não tenho registros na memória para auxiliar um eventual Fellini areia-branquense. Lembro apenas da diversão de todos quando nosso resistente ciclista queria, no dizer de antigamente, verter água. Jogava um balde de água verdadeira sobre si para ninguém ver a urina escorrendo por sua perna.

Ao final da corrida, o ganhador é premiado com a presença de Gradisca, que senta ao seu lado para uma volta triunfal. Isso alimenta a imaginação de um gordinho, sempre rejeitado pela bela ninfeta Alpina. No seu sonho ele se vê ganhador da corrida. Pára o carro e grita por Alpina, sentada numa sacada ao lado de um belo jovem. Quando ela responde ao chamado com um meigo sorriso, o gordinho, herói no seu próprio sonho, dá-lhe uma enérgica banana. Vê se isso não é quase a mais coisa de uma história que me contaram como verdadeira, acontecida no Ivipanim Clube dos anos 60? Um rapaz vinha sistematicamente sendo rejeitado por uma bela menina. Mas, tanto insistiu que finalmente ela cedeu e foi dançar com ele. Bem no meio do salão, ele se afastou e disse, em alto e bom som, você peidou!

Amarcord inicia na primavera de um ano e termina na do ano seguinte. Portanto, antes do final seus habitantes passam pelos rigores do inverno. Para as crianças aquilo é uma festa. Quem antes da puberdade não gostaria de jogar bolas de neve nos outros? Um Fellini areiabranquense provavelmente registrasse nossas brincadeiras depois de uma boa chuva. As ruas de terra batida pela água eram propícias para jogos de futebol, de bandeirinha e sobretudo de fura-chão. Era uma festa!

Para além das minhas conexões afetivas, aprecio Amarcord porque é um filme maravilhoso, um dos melhores de Federico Fellini. Assim como também aprecio “Os de Macatuba”, livro de contos de Tarcísio Gurgel, publicado em primeira edição em 1974, e em segunda edição em 1986, pela Clima, porque é uma obra-prima, no sentido objetivo e temporal e no sentido figurado que se dá a uma obra de valor.

Amarcord é uma corruptela da expressão “io me recordo” (eu me lembro), usada na região onde nasceu Fellini. De fato, Amarcord não é o nome do vilarejo italiano onde o filme se passa, mas todo mundo passou a associar o título ao nome do vilarejo fictício e, por extensão, a Rimini, a cidade natal do cineasta. Então, de vez em quando alguém diz: Amarcord é a Rimini de Fellini. O filme se passa no período exato de um ano, entre a primavera de 1940 e a de 1941, início da Segunda Guerra Mundial. Portanto, no período retratado Fellini já tinha 20 anos, não havendo assim correlação temporal entre o relato e sua vida pessoal. Além do mais, ele nega o caráter autobiográfico da obra, mas reconhece semelhanças com a sua própria infância em Rimini. Pronto, não precisei de mais nada para dizer que nas estripulias infantis, a Rimini de Fellini é a nossa Areia Branca. Sem conexão geográfica, nem temporal, apenas ligados por aquilo que Jung costumava definir como inconsciente coletivo e por pequenas coincidências em equipamentos públicos. Aí está o tempero necessário e suficiente para dar o ponto certo na nossa imaginação.

Caros leitores, pesquisadores, memorialistas e colaboradores que visitam e promovem o blogue “Era uma vez em Areia Branca”,

sou Gibran Araújo, areia-branquense há mais de um século, com inexperientes 23 anos de idade. Apesar de eu ser estudante de Engenharia de Energia da UFERSA – Universidade Federal Rural do Semi-Árido, antiga ESAM, eu gosto sobretudo de ler, pesquisar, conversar e escrever sobre a história, a fotografia e a genealogia de Areia Branca. Despretensiosamente, um dia quero ser engenheiro assim como o grande sertanista Euclides da Cunha era, e ainda assim gostar de história e de escrever como ele gostava.

É com muito prazer que aceito o convite para publicar os meus trabalhos literários neste espaço que há muito tempo tem sido um recanto, um recurso, uma fonte infinita e inesgotável para minhas pesquisas e compilações de informações de Areia Branca.

Este blogue já me proporcionou muitas coisas boas, inclusive um grande orgulho pela minha terrinha, com o que conta os escritos de Marcelo Dutra, de Othon Souza, de Evaldo Alves de Oliveira, de Francisco Rodrigues da Costa, de Antonio José de Góis, de Antonio Fernando Miranda, de Carlos Alberto dos Santos e de tantos outros, inclusive os escritos de rodapé dos comentaristas, alguns até anônimos, e os registros visuais dos fotógrafos, como o saudoso Antonio do Vale Souza, este sim foi, e ainda tem sido, o nosso recurso mais utilizado desde sempre. Suas contribuições são inefáveis.

Caro primo terceiro, Dr. Carlos Alberto, muito obrigado pelo convite, e principalmente pela atenção e estima com que tem recebido e prontamente respondido às minhas correspondências. Somos primos terceiros, pois meu bisavô Manoel Pedro de Araújo, conhecido, por causa de seu ofício, como Manoel Ferreiro, era irmão de sua bisavó Maria Engrácia, casada com Pedro Ferreira de Medeiros. Assim, temos em comum o casal de trisavôs, ou terceiros avós, João Pedro e Engrácia, que apesar de serem primos, receberam a dispensa de consangüinidade e se casaram no dia 25 de novembro de 1869 na Fazenda Amparo, por onde moraram e deixaram descendência. Na época essa fazenda se situava no território do município de Caicó, hoje o território pertence ao município de Jardim de Piranhas.

Já que infelizmente não vivi os Anos de Ouro da portuária Areia Branca, e ainda sou de tenra idade, portanto não tenho memórias de outrora por assim dizer, aproveitarei este espaço concedido neste blogue não para memorialismos, mas sim para publicar aperiodicamente artigos e crônicas que versam, principalmente, sobre a história e a genealogia areia-branquenses. Há ótimos livros publicados sobre Areia Branca nas bibliotecas, nas livrarias.

Há tempo, pesquiso e compilo informações e obras que tratam de nosso município e região. Ultimamente com a perda de ilustres e queridos escritores de nossa terra, como José Jaime Rolim, Antônio Silvério e mais recentemente Deífilo Gurgel, eu me vi obrigado a transformar uma pesquisa inicialmente particular em algo público, modestamente tentando manter acesa essa chama do amor pelos escritos de Areia Branca que não pode se apagar jamais. Foi uma conseqüência, não uma escolha. De qualquer modo não pude me acovardar. E agradeço sempre por ter tido tais grandiosas oportunidades. Hoje me orgulho ao saber que, por exemplo, uma professora do ensino infanto-juvenil das escolas públicas utiliza, para dar aula sobre Areia Branca, os meus textos publicados em O PIRATA – Jornal Cultural da Ilha da Maritacaca, onde disponho de uma página para tratar da história local. Eu me sinto bem em poder contribuir indiretamente para a formação da opinião crítica dos jovens areia-branquenses. Me sinto como alguém vivo na sociedade, podendo contribuir minimamente para sua melhoria, e para o reconhecimento e o engrandecimento das virtudes de Areia Branca, mas é claro que sem bairrismo exacerbado.

Até mais.
Muito obrigado pela atenção.
Até a próxima publicação.

 

 

O autor Gibran Araújo é membro da Academia Apodiense de Letras – AAPOL, eleito como sócio correspondente pelos imortais por seus relevantes serviços prestados à genealogia potiguar.

Texto de Antônio Fernando Miranda

(Veja também a Parte II)

O grande problema de Areia Branca, o abastecimento de água potável, remontava desde o tempo em que a cidade era um povoado. Segundo o professor Deífilo Gurgel, em seu livro Areia Branca a terra e a gente, depois da grande seca de 1877, conhecida como “a seca grande”, foi construído um pequeno açude no local onde hoje é a Praça Luiz Batista. Como nasci na rua João Felix com Machado de Assis, numa casa onde hoje é a papelaria Brasil, lembro nos anos 40 do século passado, quando burros e carroças, vinham se abastecer, para vender a água aos seus habitantes. Porém, naquela época a água só servia “para o gasto”, ou seja, para lavar roupa, louça e tomar banho. O abastecimento da água potável era feito por burros e carroças, de várias cacimbas existentes no Upanema de Cima. As mesmas eram conhecidas pelos nomes de seus donos. Assim havia a cacimba de Pitico, de Pedro Rodrigues, de João Ramos, Rufino, Antonio de Pautilia, esta e outras ainda existem (foto abaixo). Somente este ano tomei conhecimento dessas que ainda existem, graças às informações prestadas pelo senhor Manoel Gonzaga da Silva, que foi um guia neste assunto.

A única cacimba que frequentei, algumas vezes em companhia de um primo que ia lá colher água, foi a que existia no farol da praia de Upanema, atrás da casa do faroleiro, e que até hoje, apesar de encoberta por uma laje, poderia servir como um marco, caso fosse restaurada. Ela era, e é, de pedra, tendo aproximadamente um metro e pouco de diâmetro, e tinha uma elevação do solo cerca de uns 60 a 80 cm. Foto Miranda

Esta cacimba, bem poderia ser reparada, porque pertence à Marinha do Brasil. Caso semelhante aconteceu em Fortaleza, quando uma cacimba foi aberta no centro da cidade em 1839, e funcionou até 1920.

Esta cacimba, que abastecia os moradores de água potável, foi coberta por uma laje, e durante muito tempo assim ficou, até que na reforma da Praça do Ferreira em 1991, foi restaurada, e hoje serve para o abastecimento da fonte na citada praça, e para mostrar aos seus habitantes, o valor que a mesma tinha na época. Foto Miranda
Foto Miranda Esta é outra cacimba que tomei conhecimento graças ao meu guia, e que também deveria ser restaurada, pois foi obra (ou é ainda?) da prefeitura, e que no momento o terreno onde se encontra, pertence ao senhor Joãozinho ourives. É uma cacimba com aproximadamente 4 metros de diâmetro, que muito contribuiu para o abastecimento da cidade, através dos burros e carroças, e do caminhão pipa da prefeitura.

Duas cacimbas que ficaram famosas pelo zelo dos seus donos, em mantê-las em completo asseio, eram a de Zé Lucena e a de Fransquinha de Pixico. Isto porque nas demais, os que enchiam as pipas ou ancoretas, depois tomavam banho em cima da própria cacimba, voltando a água novamente para ela acrescida do suor. As duas citadas ficavam próxima uma da outra, ambas fechadas a cadeado. Devem ter sido soterradas pela ação dos ventos, no terreno próximo ao reservatório da Petrobrás.

Os burros e carroças eram a adutora móvel, conduzidos pelos tropeiros (na época não se chamavam assim). O mais conhecido de todos foi João de Lelé, que era assim chamado porque, desde a hora que se levantava para ir buscar a água no Upanema, geralmente às 3 horas da manhã, e até encerrar suas atividades do dia, estava sempre assobiando. Ao contrário de dona Lelé, João era um magricela. Havia ainda, Zé de Rosa, Zé da burra e outros. Geralmente os donos dos burros, tinham seus pontos de revenda cujos donos mantinham tambores como coletor de água, que era vendida aos que necessitavam.

Isto porque era difícil fazer o equilíbrio nas ancoretas, pois nem sempre a água era vendida toda em uma mesma rua, e isto causava desequilíbrio. Então, o processo de encher e esvaziar era da seguinte maneira: tirava-se meia lata d’água de uma, e depois da outra, sempre mantendo as mesmas em equilíbrio, e isto tornava o trabalho demorado. Assim, ao retirar uma lata d’água de cada ancoreta, ao iniciar a caminhada dos burros, provocava um balanço, que certa vez causou o rolamento de uma cangalha, indo as ancoretas ao chão. Foto de Abimael Thales

Um dos pontos de revenda da água mais conhecido que eu lembro, era a de Joana do Açu, mãe de Caramuru, Carapoca e Cueca, famosos por suas peripécias. Esta casa ficava na atual rua Deputado Manoel Avelino (antiga rua Dr. Almino) com desembargador Silvério, só que na época, não existia a casa da esquina e a vizinha, não havendo assim o alinhamento de hoje. Certa vez, foi encontrado uma lombriga dentro de um dos tonéis, colocada sem dúvida por um dos três artistas.

Mesmo depois da perfuração do poço, em 15/08/1968, na administração do Prefeito Dr. Chico Costa, para o abastecimento d’água em Areia Branca, o abastecimento d’água continuou sendo feito por burros e carroças, das cacimbas citadas. Isto porque, ao jorrar a água do poço perfurado, a mesma atingia uma temperatura inicial de 70º, que não permitia sua utilização de imediato.

Sanado o problema cruciante da cidade, o abastecimento de água potável, continuou o mesmo nas as comunidades rurais, que será objeto da próxima crônica.Por enquanto apreciem esses tipos de cacimba. À direita, Manoel Gonzaga ao lado de uma cacimba descoberta pela erosão.

Fotos Miranda.

Cacimba de Antônio Pautilia Dono desconhecido

Texto de Antônio Fernando Miranda.

O início desta história todos os areiabranquenses conhecem, porém o final, por está arquivado por mais de 50 anos, apenas em meu PC (cérebro pessoal), e somente agora retiro uma cópia para dar uma pequena contribuição, que sem dúvidas será anexada à história de Areia Branca, nem os que escreveram sobre ele (Manoel Avelino), tinham conhecimento. Isto é o que me parece, pois não li até hoje, qualquer comentário sobre o assunto. É necessário inicialmente, descrever o que um pouco, o que os escritores areiabranquenses já descreveram.

No início dos anos 50, volta a Areia Branca o senhor Manoel Avelino Sobrinho, ostentando o titulo de Doutor, formado pela Faculdade de Direito do então Distrito Federal, o que foi motivo de orgulho para todos os filhos da terra, por ter sido o primeiro advogado areiabranquense. O seu escritório de advocacia foi montado em frente ao jardim (Praça da Conceição), à Rua João Felix.

Pouco tempo depois, surgiu na cidade uns panfletos apócrifos, em linguagem matuta, mais que era de fácil entendimento por todos, onde dois matutos (Zeferino e Malaquias) criticavam a política do então prefeito Zé Sólon. Todos os amigos do doutor Manoel Avelino, sabiam que o autor dos panfletos que o povo o batizou logo de “O Malaquias”, era o próprio Avelino, porém se fosse indagado quem seria o autor, negavam com todas as forças. Apesar de terem sido circulados vários “Malaquias”, passado o período de sua publicação, os correligionários do Dr. Manoel Avelino, foram aconselhados a desfazerem-se de todos, para não comprometer o futuro político do mesmo, conforme veremos mais adiante. Portanto dos vários Malaquias, guardei no meu PC, apenas uma frase de um deles, em que o Zeferino dizia para o Malaquias: “poisé cumpadi, o puliticu é cumu fejão de môiu, o qui sobi é pruque num presta”.

Como estava próxima a apresentação do candidato que iria substituir seu Zé Sólon, seu Dimas (Dimas Pimentel Ramos) como correligionário de Zé Sólon, esperava ver lançado a candidatura de seu Zeca de Celso (José do Couto Dantas), que era seu genro. Entretanto seu Zé Brasil (José Brasil Filho), com a sua habilidade de convencer as pessoas, não foi difícil convencer seu Zé Sólon, de que o substituto ideal seria o Dr. Avelino, tendo o mesmo aceitado a sugestão de seu Zé Brasil. Com esta decisão, houve um protesto dentro do PSP, e seu Dimas, Paizinho (como era conhecido popularmente Braz Pereira de Araújo), que era vereador e delegado do sindicato dos marinheiros, Dr. Vicente Dutra, os irmãos Manoel e Zé do Vale, Manoel Leandro Sobrinho e outros formaram um grupo dissidente, e em protesto lançaram as candidaturas de Braz Pereira e Manoel Leandro.

Seu Zeca de Celso, vendo suas pretensões desfeitas, e tentando ajudar aos novos candidatos apoiados por seu Dimas e os demais citados, lançou uma carta aberta ao prefeito Sólon, afirmando que o “Malaquias”, não era outro senão o Dr. Manoel Avelino que ele agora estava apoiando. Isto causou a principio um grande mal estar na candidatura da situação. Porém. em seguida seu Chico Avelino (Francisco Avelino dos Santos), como bom irmão, e não poderia ser diferente, lançou outra carta aberta, chamando para si toda a responsabilidade pelo Malaquias, inocentando de culpas o Dr. Manoel Avelino. Isto fez com que a candidatura do mesmo tomasse mais impulso. E talvez como marketing (na época, não se usava esta palavra), trouxe do Rio de Janeiro, seu irmão, o então acadêmico de medicina Zé Maria (José Maria dos Santos), para gratuitamente atender a população carente, oferecendo a ela os seus conhecimentos da medicina. Isto sem dúvidas deu mais um novo impulso à candidatura já vitoriosa, para desespero dos seus opositores. De nada adianta relatar a liderança que o Dr. Manoel Avelino exerceu sobre os areiabranquenses, pois os escritores Deifilo Gurgel, José Jaime, Francisco Rodrigues da Costa e outros já o fizeram, e muito bem.

avelino_juscelino

Nesta foto da campanha de Juscelino para presidente, aparecem da esquerda para a direita: Rudson Góis, Jofre Josino, Manoel Avelino (discursando), Vingt Rosado, Quinquinho Lucio, Juscelino, Jango, seu Dimas, e outros. Foto O Manoelito (de Mossoró).

Agora entra a parte principal e desconhecida até agora, inclusive dos biógrafos do Dr. Manoel Avelino. Talvez para referendar o crescimento da candidatura Manoel Avelino, surgiu um novo panfleto, desta vez em forma de verso, cujo mote era:

Sem ser Manoel Avelino

Onde está o candidato?

 

E a glosa era:

 

 Perguntando a muita gente

E ao povo não satisfeito

Aonde anda o prefeito?

Me diga, Dimas Ramos

Só você é persistente

Por querer ser muito exato

Embora bancando o pato

Com seu instinto ferino

Sem ser Manoel Avelino

Onde está o candidato? 

 

Esta glosa teve enorme repercussão na época, deixando os “avelinista” em estado de euforia. Apesar de apócrifa, a mesma era de autoria do grande poeta areiabranquense João Figueiredo, que era sogro do Dr. Manoel Avelino. Muito embora publicamente ele não assumisse a paternidade da mesma, e nem os avelinistas confirmavam.

Porém, como em Areia Branca sempre teve bons poetas, não demorou muito, e surgiu outro panfleto também em forma de glosa e apócrifo, cujo mote era.

Se diz Manoel Avelino
Porque não diz Malaquias?

E a glosa era:

Eis a resposta ao glosista
Que procura candidato
Chamando Dimas de pato
Mostrando ser pessepista
A este poeta sem pista
Eis a resposta em dias
Se diz Manoel Avelino
Por que não diz Malaquias? 

Quem não viu há dias passados
Este que hoje é candidato
Imitando gestos de gato
Dando unhada e a se esconder
Quem não viu, podia ver
Fazia com garbo e alegria
E hoje desajeitado
Nega e briga avermelhado
Que não é o Malaquias.

Apesar da resposta ter sido bem elaborada dentro do tema, a glosa não teve repercussão no seio avelinista, e tampouco na candidatura Manoel Avelino, que àquela altura já estava consolidada. Sobre o autor da resposta, na ocasião foram citados vários nomes como, por exemplo, Zé e Amaro de Frederico, senhor barbeiro, Manoel do Vale e outros. Porém de todos os citados, e até hoje não confirmados, acredito que tenha sido Manoel do Vale (ou Manoel de Touzinho como também era conhecido), que também tinha sua veia poética, e além disso, era um dissidente. Como disse no início estes fatos estão arquivados apenas na minha memória, não tenho como fazer uma afirmação concreta, a não ser se tiver a oportunidade de me encontrar com o possível autor, que ainda está entre nós, para dirimir esta dúvida. Porém a glosa inicial deve ser anexado ao histórico deste grande poeta areiabranquense, que foi João Figueiredo. Sinto-me envaidecido, em poder dar esta pequena contribuição poética (não minha claro), para abrilhantar cada vez mais a história de Areia Branca.

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