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Localizado no centro de Praga, capital da República Tcheca, em uma até então pacata praça que tem como prédio ilustre a embaixada da França, no bairro de Mala Strana, o Muro de Lennon é hoje um dos principais pontos turísticos da cidade.

Após o assassinato de Lennon em 1980, um grupo de jovens resolveu prestar uma homenagem ao ex-Beatle. Em um muro branco, pertencente à Ordem de Malta, de forma espontânea, começaram a pintar imagens de Lennon e grafites relacionadas aos Beatles. As letras das canções de John Lennon serviram de combustível para que explodisse o sonho de liberdade em Praga, que vivia sob o regime comunista. Ali também depositavam flores e acendiam velas. O muro surgia como um símbolo de liberdade e oposição a um governo absolutista.

O regime comunista via esse tipo de ação como atividade subversiva contra o Estado e punia com prisão. Também era proibida a simples divulgação de músicas ocidentais. Após o assassinato de John Lennon em Nova York, o muro surgia como uma marca nos projetos de liberdade e oposição a um governo totalitário.

Como forma de reação, o governo comunista mandou pintar o muro de branco, e assim era feito com a frequência necessária. Câmeras de vigilância foram instaladas e a presença policial foi intensificada. As pessoas temeram pela perda da importância do local, o que não aconteceu. Assim, de um aparente ato de vandalismo surgia a expressão de um projeto que envolvia a arte e o não conformismo de uma geração de jovens. Com a queda do comunismo, em 1989, o local assumiu status de importante atração turística de Praga.

Lennon Wall. Um recanto de paz agitando Praga.

EvaldOOliveira

Sócio Correspondente do Instituto Histórico e Geográfico do RN

No olhar do papa-figo, o medo que ficou

Na incelença, a esperança que anima

Na serração, o terror na noite escura

Um barulho no escuro, temor; respingos da infância

buzuoco que passava, Bíblia na mão; intolerância religiosa

O vento que vem da várzea, salitre

O barulho do catavento, moinho de vento que jamais existiu

O manguezal que protege; a limpeza do rio Ivipanim

O homem que destrói; cicatrizes urbanas

Procissão dos Navegantes, a fé que anima e fortalece

Barcaças no mar, velas ao vento; horizonte como desafio

Barcos na Rampa; lembrança dos beijus

Luzes, brilhos, alegria; barraca de Zacarias

EvaldOOliveira

Sócio Correspondente do Instituto Histórico e Geográfico do RN

Texto já publicado neste blog, com outra formatação e outro título.

Buzuocos: os primeiros protestantes de Areia Branca, nas décadas de 1940/50.

Areia Branca, ano de 1974. Miro estava com essa música na cabeça há uma semana. Ia para casa, lá estava a música de Fagner – Canteiros -, na qual utilizou uma estrofe do poema Marcha (de Cecília Meireles) perturbando seus miolos: Eu só queria ter do mato um gosto de framboesa, pra correr entre os canteiros e esconder minha tristeza. Fosse no seu pequeno ateliê de artesão ou no banheiro, aquela música o perseguia.

Sexta-feira, tarde quente. Miro montou em sua bicicleta, deu uma volta na pracinha e, desplugado de compromissos, foi passear pelas salinas. Pedalou, caminhou, e foi parar em uma várzea logo depois de Upanema, pros lados de Pedrinhas. Depois de um cafezinho com sequilho na casa de um amigo, deixou a magrela e saiu caminhando no meio dos arbustos, curtindo a visão distante de algumas salinas.

Erguendo a cabeça na direção da cidade, já quase invisível, vislumbrou um velho catavento, com suas pás em desalinho e seu espectro sombrio de abandono. E a música de Fagner a dar um toque de romantismo àquela tarde quase noite.

Ali, escaneando com os olhos o solo ressequido, Miro percebeu o trabalho incansável das formigas cortadeiras, com suas mandíbulas de dragão; do outro lado, pequenos gafanhotos com fácies de kwashiokor disputavam alimentos sem valor. Ao longe, maçaricos safados saltitavam, beliscando plantinhas rasteiras, vizinhas de beldroegas polpudas e tristes, exibindo suas flores rosadas às abelhas e passarinhos que não apareciam. Ao perceber dois maçaricos saltitando pela relva esturricada, Miro ficou contemplando o modo de andar e a desenvoltura daquelas pequenas aves. Suspirou e imaginou: quanto donaire em tão simples criaturas. Riu desse pensamento, que evocava Machado de Assis em Esaú e Jacó.

A noite foi chegando, trazendo consigo uma prima em primeiro grau do sereno: a brisa quente e rala que o vento trazia de outras paragens, desbancando a secura extrema ali reinante. Ali, um cheiro gostoso, característico das várzeas salitradas, foi assumindo o domínio do seu departamento olfativo, subindo à diretoria do encéfalo e causando um relaxante estado de letargia que beirava o alfa tão falado. É aqui que deve morar o nirvana, pensou. Mas, nesta secura?, ponderou, voltando a si. Um pequeno risco amarelo, no nível mais baixo da visão, anunciava que uma magnífica lua estava sendo empurrada de baixo para cima, e que aquela seria uma noite especial.

Com uma sensação de encantamento, sentou-se no solo seco e áspero, depois de arrancar com dificuldade alguns carrapichos grudadeiros que insistiam em conhecer o gosto de sua pele morena. Acomodado, testemunhou, como nunca o fizera, o lento ritual de uma noite chegando devagarinho, perdendo forças pelo imperativo de um luar ainda em formatação. Era o sol se indo às suas costas e a lua chegando no rumo do seu olhar. E a bela música de Fagner – Eu só queria ter do mato um gosto de framboesa, pra correr entre os canteiros e esconder minha tristeza – a martelar sua mente juvenil, agora calma. De onde estava, marcou o ponto luminoso no interior da casa do amigo e se levantou.

Voltou para casa sorrindo, sua bicicleta abrindo caminho no cascalho metido a estrada que passava em frente a Honorina, àquela hora com grande movimento. De esgrelha, contemplava os cercados da Ilha, com a vegetação quase verde exibindo-se ao luar.

Em sua cama, sem qualquer sinal de cansaço, meditava sobre algo em que jamais havia pensado, alterando – com as desculpas à poetisa e ao compositor – a letra daquela música incrustada em sua mente.

E cantou alto, com seu familiar desafinado: Eu só queria ter da várzea um cheiro de beldroega…

Ninguém entendeu.

E Miro sorriu, esperando o sono chegar.

EvaldOOliveira

Sócio Correspondente do Instituto Histórico e Geográfico do RN

Já publicado neste blog, com outro título e outra formatação

Meu amigo Chico de Neco Carteiro iniciou, e imagino quase haver terminado, um livro ainda inédito, não publicado. Porto-Ilha é o seu título, ao menos provisório. E me fez o seu último pedido. Queria que eu assinasse a orelha desse livro.

Foi quando iniciou a pandemia de Covid-19, e os desmandos e arbitrariedades de nossos governantes favoreceram esse elevadíssimo número de mortes, além das mazelas que acometem os sobreviventes dessa tragédia.

Chico de Neco Carteiro recolheu a parte do texto que me havia enviado, para as correções que imaginara fazer, e não mais deu notícias de sua obra inacabada. 

No texto que me enviara, a noção de que o Porto-Ilha não era mais um sonho. Suas obras ocupavam espaços, trabalhadores faziam barulho, agitando a cidade. E foram surgindo imensas estruturas nos canteiros de obras. Areia Branca não conhecia uma grande obra, até então.

Ali, nosso sofrido escriba vestiu sua roupa de trabalho, pôs o capacete de trabalhador da construção civil e saiu em busca de nomes, datas e endereços de pessoas que contribuíram para que o sonho dos areiabranquenses saísse das pranchetas para os canteiros de obras.

Desse modo, encara de frente o Rio Grande do Norte, e viaja fundo pelos escaninhos de sua política, onde os interesses pessoais quase sempre se antecipam aos anseios do Povo. 

Percebi, a certa altura, que o assunto Porto-Ilha desaparecera, como um surfista que entra em um tubo gigante e fica invisível por algum tempo, para retornar inteiro do outro lado.

Ao final Chico de Neco Carteiro assume o ineditismo de um tema pouco conhecido dos brasileiros: o Porto-Ilha, sua construção, seus trabalhadores, sua administração e sua importância para a economia do Rio Grande do Norte e do Brasil.

EvaldOOliveira

Sócio Correspondente do Instituto Histórico e Geográfico do RN

Sempre que me defronto com um castelo – já aconteceu dezenas de vezes – vem à mente o Castelinho dos Dantas, construído na Rua do Meio, próximo ao Cine Coronel Fausto, quase em frente à casa onde morava Sônia. Não passava de uma casa de dois pavimentos, mas foi com essa aura de encantamento que embalamos o castelinho em nossos sonhos de criança.

A imagem do castelinho de Areia Branca retornou à cena há alguns dias, quando estive na cidade de Sítio Novo. Ali, em plena aridez do sertão, fomos visitar um castelo construído em meio a imensas rochas, no alto do morro da Tapuia, justo no local onde havia uma pequena capela, frequentada pelos moradores das redondezas. É também uma construção que tem o dom do encantamento, por sua grandeza e localização. 

Trata-se de uma história de fé e abnegação. Ainda criança, José Antônio Barreto – Zé dos Montes – teve uma visão. Nossa Senhora lhe pedia para construir uma igreja. Essa visão retornaria na adolescência, deixando o jovem assustado. Depois de servir na Segunda Guerra Mundial, aquele homem iniciou uma sondagem sobre o local indicado pela mãe de Jesus para que ali construísse sua capela. 

Zé dos Montes adquiriu o terreno no alto do morro da Tapuia, e no dia 13 de agosto de 1984 deu início à construção de um castelo. Seguia seus instintos, sem qualquer orientação técnica, desafiando a lógica mais primitiva. E foram surgindo torres, postos de vigilância, estreitas passagens formando labirintos. No quintal, túneis construídos com tijolos lembram caminhos de cupins. Ali, nesses túneis-labirintos, são realizadas as cerimônias da via sacra, com as pessoas conduzindo velas em procissão. No alto desses túneis existem orifícios para ventilação. No centro do castelo encontramos boa parte da estrutura da capelinha que ali existia, ainda com as imagens.

Um castelinho na Rua do Meio. Um Castelo no topo de um monte.

O mesmo encantamento.

EvaldOOliveira

Sócio Correspondente do Instituto Histórico e Geográfico do RN

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