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Menino da Rua da Frente, desde cedo acostumei-me com a visão do  rio Ivipanim, emoldurado pelo cais, de um lado, e pelos manguezais do outro. Alguns locais do manguezal lembravam sobrancelhas gigantes de alguém emergindo das águas do Ivipanim, olhando para a igreja matriz.

Muitas pessoas ainda mantêm o sustento da família coletando caranguejos dos manguezais, em uma lida quase insana. Na bodega do meu pai, de frente para o rio, ouvia comentários sobre os bichinhos dos manguezais. Falavam do guaxinim, que comia os caranguejos. Eu achava estranho. Guaxinim no mangue? Achava ser uma lenda urbana.

O manguezal ocorre em áreas de transição entre a terra e o mar, em locais inundados por marés, caracterizados pela mistura de água doce e salgada, com solo instável. Por ser um local lamacento, com pouco oxigênio, apenas três espécies vegetais (mangues) conseguem  ali crescer e se desenvolver: Mangue branco (Laguncularia racemosa), Mangue vermelho (Rhizophora mangle) e Mangue negro (Avicennia schaueriana e Avicennia germinans).

Mangue branco Branco

Mangue vermelhoVermelho

Mangue negroPreto

Essa sobrevivência se deve a adaptações, como raízes aéreas. Nos mangues negros e brancos as raízes emergem de baixo do sedimento em direção ao ar, o que propicia exposição ao ar mesmo nas marés cheias, possibilitando trocas gasosas. O mangue vermelho promove as trocas gasosas através de expansões no caule.

A bióloga Yara Schaeffer-Noveli explica: “Nós temos um controlador de efeito estufa. O manguezal tem uma competência de fixar carbono dez vezes superior ao das florestas tropicais. Isso é bastante novo. Isso é muito recente, essa informação”.

A retenção de sedimentos carregados pelos rios aderem ao substrato do manguezal, formando um ambiente com rica matéria orgânica. O ecossistema funciona como um filtro, onde as bactérias trabalham a matéria orgânica, sedimentando partículas contaminantes e metais pesados.

Fauna do manguezal – do ambiente marinho: moluscos (ostras, sururus; crustáceos caranguejos, siris e camarões, além de peixes); da água doce: crustáceos, como o pitu; do ambiente terrestre: aves (garças, mergulhões e gaivotas), répteis (cágados e jacarés), anfíbios (sapos, jias e rãs); mamíferos (morcegos, macacos guaxinins e capivaras), além de insetos como mosquitos e abelhas. Há a fauna microscópica, com importância na cadeia alimentar dos  vermes, moluscos, larvas de camarões, de caranguejos, de peixes.

Quando é lançada uma quantidade excessiva de substâncias orgânicas na água (por deposição de esgotos) acontece o fenômeno da eutrofização – processo pelo qual um ecossistema aquático adquire alta taxa de nutrientes (principalmente fosfato e nitrato)., aumentando os microrganismos decompositores, o que leva a um consumo maior de oxigênio e à morte de seres aeróbicos. Aqui, a crucial importância dos manguezais.

Manguezais de Areia Branca. Ecossistema a ser preservado.

O futuro do futuro.

EvaldOOliveira

Sócio Correspondente do Instituto Histórico e Geográfico do RN

 

Se fosse possível voltar no tempo e fazer minhas escolhas, eu nasceria onde o sol aparece primeiro, em sua caminhada pelo lado de cá do mundo, de frente para o Atlântico, vislumbrando a África por trás daquelas nuvens perto do sem fim, bem depois do horizonte.

Menino, eu sairia pelas várzeas em busca dos últimos maçaricos que brincam nas falésias, em uma tentativa insana de conhecer os seus segredos. Os do encontro rio e mar eu já os tenho, e fica na calmaria desse tênue azul junto ao verde claro, nas proximidades do Pontal. Eu estive ali nesse momento preamar. E ali ficaram todos os miasmas de minha infância.

dsc04357Uma linha verde-azul

Ao lado da pracinha, perto da Coletoria Estadual, percebendo uma aglomeração de pessoas, chegaria em tempo de gritar para um jovem com um objeto na mão, sem ideia do poder daquela peça metálica, e o levaria para comer um cuscuz feito na tampa da chaleira, no mercado público, mesmo que fosse à tarde. Quinhentos réis cada um. E lá se foi minha moeda de mil réis.

Sairia pela Rua do Meio junto com Chico Novo e, nas proximidades do esqueleto do Cine Miramar, armaria outros quebra-canelas, e novamente daria gargalhadas quando algum incauto caísse em um deles, mesmo correndo o risco de sermos  obrigados a lavar o sururu que aquele trabalhador deixara cair. Aqui, a alegria de quem viveu seus momentos criança.

Nadaria no rio Ivipanim, subindo nos barcos ancorados, fazendo hora para ver a triunfal chegada do menino Marco Juno quando retornava da Mutamba de Baixo, pros lados de Icapuí, com os braços abertos em cruz sobre a barriga do barco, à Titanic, saudando a vida e essa cidade com uma igreja em frente ao rio.

Sonhos. Devaneios. Desejos. Lembranças. Nada além disso.

EvaldOOliveira

Sócio Correspondente do Instituto Histórico e Geográfico do RN

 

 

 

Olhando da Rampa, Grossos e Porto Franco pareciam quase invisíveis, apesar do dia claro. Em frente, o manguezal mostrava-se incomodado. Seus moradores se agitavam ao perceber os últimos avisos da subida da maré. Era preciso cada qual procurar sua moradia. A maré se agigantava.

Sabíamos que por trás daquele manguezal esparso, do outro lado da Rampa, dois pequeninos lugarejos tentavam manter-se ocultos. Apenas as canoas dispunham de alvará que as permitiam adentrar pelo estreito canal. E fomos lá, bem no dia da procissão de Nossa Senhora dos Navegantes.

Ao chegarmos a um pequeno banco de areia, a canoa encostou e algumas pessoas desceram do pequeno barco. Agora sozinhos, passemos à nossa visita. Queríamos visitar aquele encontro aqui já relatado, onde o céu, o mar e o rio pareciam fazer uma reunião. O que, afinal, combinavam?

Uma Operação Controlada foi armada em Upanema. Munidos de máquina fotográfica e um prévio acerto com o canoeiro, fomos com cara de sem-querer-querendo no rumo do encontro rio-mar.

Saímos de leve, motor em baixa rotação. Desligados da pressa do dia a dia, fingíamos um deslocamento sem compromisso, no desinteresse que ali se engendrava. Nada falamos, mas nosso objetivo oculto era flagrar aquele encontro tripartite em uma pequena área de exclusão entre mar e rio, sob a arbitragem de um céu muito abaixo de sua altura habitual. Foi o que imaginei.

Ao chegarmos, uma surpresa. Não havia área de exclusão, como acontece na fronteira das litigantes Coreias sob supervisão da ONU.

 

E descobrimos um rio calmo em contato chegado com um mar sereno. De diferente, penas um discreto vai e vem que mais parecia um tremelique junto à linha que demarcava aquele escasso território até então imaginado como tenso. Até um peixe que os supervisionava se afastara de forma sorrateira e agora olhava distante, um olho no rio outro no mar.

O céu, o mar e o rio flagrados em um encontro marcado em frente ao Pontal, e agora delatado.

Como surpresa, a descoberta de uma boa relação entre as partes, e nada de alteração. A natureza em bom comportamento, como sempre acontece.

EvaldOOliveira

Sócio Correspondente do Instituto Histórico e Geográfico do RN

 

Areia Branca é uma cidade litorânea localizada na Região da Costa Branca, no Rio Grande do Norte. Privilegiada por se encontrar na esquina do mundo, desfruta ainda de uma característica especial: é a única cidade da Terra onde o sertão, animal indomável, vem disfarçadamente ao encontro do mar. E sabemos que a caatinga é o único bioma exclusivamente brasileiro, o que significa que grande parte do seu patrimônio biológico não pode ser encontrado em nenhum outro lugar do planeta.

 Aqui, além de encarar com doçura as coisas do sertão, sob a forma de caatinga, em um encontro inusitado e único no mundo, a possibilidade real de olhar para o Oceano Atlântico sentado bem na esquina do mundo, cercado por coqueiros com cheiro de maresia. Pela manhã, poder caminhar por praias ainda preservadas e conhecer belas falésias, além do espetáculo das salinas hoje mecanizadas.

Dar um bom dia ao sertão, sentado de frente para o mar.

Em Areia Branca, pode!

EvaldOOliveira

Sócio Correspondente do Instituto Histórico e Geográfico do RN

Por que falamos tanto de Areia Branca, quando sabemos que a maioria das pessoas facilmente esquece suas ligações com a terra onde nasceu, e segue pelos caminhos da vida sem um referencial de origem?

Fiquei matutando uma resposta a esta indagação, e viajei pelas areias que o vento espalhava sobre os coqueirais que ainda resistem ao sol forte que lhes queima as entranhas, aqui sem qualquer proteção anti-uva/uvb.

Caminhei pelas noites, depois que o sol se escondia do outro lado do rio, pros lados de Tibau. E me vi diante da imagem daquele luar dissolvendo nuvens fugidias que brincavam de sujar o céu estrelado, correndo feito cabritos, a lua a persegui-las com seu passo de tartaruga.

Relembrei antigos cataventos que tangeram águas em salinas com validade hoje vencida; outros, com a força de suas pás, aspiraram do fundo da mãe terra a água que refrescava a vida nos sítios e enchia de vigor as plantas ressequidas das várzeas. Hoje, esqueletos ao vento.

Lembrei-me das noites de chuva, com o ribombar dos trovões pros lados de Pedrinhas e Casqueira, disparando raios que escreviam no céu mensagens de  regozijo dos cajueiros do mato, ao tempo em que faziam tremer meninos e meninas em suas redes com cheiro do sol de Upanema.

Sob os eflúvios benfazejos de um vinho branco, viajei pela calmaria dos maçaricos se deslocando por caminhos no chão de várzeas e falésias, alternando com voos de pequeno porte, sem a argonauticidade dos carcarás. Aqui, a beleza da fragilidade.

Naveguei de canoa pelo rio Ivipanim, com suas águas tornadas salobras pelos arrotos do mar com aquela cara feia de quem fala sério. Olhando de perto, o que temos é um afago de águas tornadas irmãs. Fomos ao encontro do rio com o mar, que acontece nos limites do Pontal, e constatamos que se trata de um fenômeno único, calmo, rosto no rosto, ombro no ombro.

passeio-canoa

dsc04351Logo à frente, mar e rio cara a cara

Alguém poderá dizer: Ele já falou tantas vezes sobre isso neste blog; não seria uma repetição? – Altemar Dutra cantou o amor a vida inteira, e adoramos novamente poder ouvir essas mensagens de amor.

Motivos para lembrar, muitos. Difícil indicar quais.

EvaldOOliveira

Sócio Correspondente do Instituto Histórico e Geográfico do RN

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