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Esclarecida a questão do local para onde teria ido a mãe de Cristo depois de sua morte e ressurreição, Ana Lúcia e seu grupo da escola traziam um ponto a ser discutido. É que um grupo de alunas havia lido a respeito de uma pequena mesa que Maria levava junto com seus pertences, e que teria sido pintada por um dos apóstolos. 

Resumindo, Ana Lúcia, temos o seguinte: Quando a mãe de Jesus foi para Éfeso, hoje Turquia, logo depois da morte e ressurreição, conduzida por São João, levava consigo alguns utensílios simples para serem usados na nova moradia.

Dentre os elementos que compunham a escassa mobília de Maria, fazendo parte de seus limitados pertences, algo chamou a atenção de um grupo de mulheres de Jerusalém. Tratava-se de uma pequena mesa, que somente muito tempo depois esses fatos seriam enfim esclarecidos. 

Um grupo de mulheres de Jerusalém assumiu a guarda da pequena mesa. Esse grupo dirigiu-se a Lucas, o evangelista, e pediu que ele pintasse a imagem da mãe de Jesus sobre o tampo da mesinha. Essa pintura permaneceu nos arredores de Jerusalém, sendo levada, no ano de 1382, para a Polônia, via Constantinopla – atual Turquia.

Com o tempo, e devido a um antigo e inadequado trabalho de restauro, pela diferença de pigmentos utilizados nas duas épocas, a pintura adquiriu uma tonalidade escurecida. Hoje, aquela pintura de cor escura representa a Virgem Negra de Chestokowa, rainha e protetora da Polônia. O local tornou-se o mais importante ponto de peregrinação e orações daquele país do leste europeu.

Uma mesinha. Uma pintura. A devoção de um povo.

EvaldOOliveira

Sócio Correspondente do Instituto Histórico e Geográfico do RN

Eu queria vê-la na pracinha em frente ao palacete municipal, mas não queria enfrentar sua aura de desinteresse.

Eu queria partir, mas não queria deixar aqui minha história de vida mal contada.

Eu queria nadar no rio Ivipanim, mas não estava disposto a discutir sua poluição.

Eu queria passear de canoa, como costumo fazer, mas não queria ver a parte de cima da Rua da Frente em ruínas, sem o Tirol e a Praça do Pôr do Sol.

Eu queria contar minha história, mas não queria narrar momentos de conflito, tensão e desespero.

Eu queria um passeio repleto de conversas e reminiscências, mas não queria acordar meus pensamentos. Optei pelo passeio mudo.

Eu queria curtir a alegria dos iates chegando, mas já pensava em que dali alguns dias eles partiriam.

Queria alugar uma bicicleta do Chiá, irmão de Popõe, ali na pracinha, mas não sei se aquela menininha veio para a Festa de Agosto. Sei que ela mora na Rua do Progresso, mas não sei em qual casa; nem sei o seu nome.

Eu queria aquele luar de Upanema, mas não queria a companhia daquelas nuvens encrenqueiras que tomaram conta da lua.

Na beira do cais, em dia de maré cheia, queria atirar uma pequena pedra no rio, para agitar suas águas, mas não queria assustar aquele peixinho que dias antes beliscara meu dedinho do pé em uma maré de sizígia.

Eu queria viajar naquele trem, em Porto Franco, mas não no último vagão, conhecido como vagão de frenagem, onde impera barulho e restos de fumaça. 

Na realidade, eu queria, mas não queria. 

Eu, anfibológico?

EvaldOOliveira

Sócio Correspondente do Instituto Histórico e Geográfico do RN

Até o século XIX era comum um funcionário tomar conta do vagão de frenagem, tanto para acionar o freio após ouvir o apito indicativo do maquinista, quanto para vigiar o comboio (observar se não há ninguém entrando no trem sem autorização ou pegando “carona”, sobreaquecimento dos mancais dos eixos, cargas e outros equipamentos soltos). Wikipédia.

Uma romaria a cada ano, conforme combináramos. Nosso destino, ao final, seria Areia Branca, justo na véspera da festa de Nossa Senhora dos Navegantes. O objetivo era visitar lugares que sempre desejamos conhecer ou, no contraponto, rever locais que já conhecíamos, porque ali jamais haveríamos de retornar, por falta de outra chance.

Essa cruzada foi iniciada em 2016, quando saímos de Natal e chegamos a Juazeiro do Norte, a terra do Padim Ciço. Rodamos por estradas de boa qualidade, passando por Tangará, Santa Cruz, Acari, Patos, Milagre e Barbalha. Depois de um dia de erros nas estradas, à noite estávamos em Juazeiro. No retorno para Areia Branca, a viagem foi cheia de atropelos, pelos erros que cometíamos pelos caminhos. Não olhávamos as placas nem os mapasyu. 

A segunda edição ocorreu no ano seguinte, 2017. Saímos de Natal sem destino certo. Foi combinado que entraríamos no carro sem saber para onde iríamos, e quando nos deparássemos com os cruzamentos, faríamos uma rápida votação e tomaríamos o caminho escolhido. E assim foi feito. Saímos às 6:35 e fomos em frente. Santa Maria, Cachoeira do Sapo, Caiçara do Rio dos Ventos. Sem que percebêssemos depois do almoço passávamos por Aracati, e à noite estávamos ao lado de Fortaleza. Daí a Pacajus, Itapajé, Sobral, subimos a serra de Ibiapaba e chegamos a Tianguá, e à tarde entrávamos em Teresina, a belíssima capital do Piauí. Tudo por puro acaso.

Na viagem para Areia Branca, passamos por Piripiri, Ubajara, Ibiapina, Guaraciaba do Norte, Ipu, Hidrolândia e Santa Quitéria. Passamos por Itaperuaba à tarde e chegamos a Canindé à noitinha. Na volta, uma passagem por Toró, Quixadá, daí para Morada Nova e um almoço em Russas. Chegamos a Mossoró à tardinha, cumprimentamos a capital do oeste e passamos direto para Areia Branca.

Em agosto de 2018 fizemos nossa terceira romaria, saindo de Natal com destino a Areia Branca, contornando o mapa do Rio Grande do Norte. Passamos por Bom Jesus, antiga cidade de Panelas, Serra Caiada, ex-Presidente Juscelino, e fomos lanchar em Tangará. Daí, Parelhas para o almoço e Caicó para a janta e o pernoite. Saímos para Jardim de Piranhas, Serra Negra do Norte e Acari, onde degustamos a famosa cocada na quenga. Seguimos para Carnaúba dos Dantas, para uma visita ao Castelo de Bivar, uma estranha construção naquelas paragens ressequidas. Retornamos rápido para Natal, devido a um imprevisto com um dos nossos, para cumprimento de uma reunião anteriormente agendada. Dessa vez, não chegamos a Areia Branca.

A quarta romaria teve início em maio de 2019, saindo de Natal. Passamos por Serra Caiada, Tangará, Acari e chegamos a Caicó, onde almoçamos. Daí a Patu, Brejo do Cruz, a terra de Zé Ramalho, e nos dirigimos para Martins, onde jantamos um caldeirão de sopa, feita no capricho. Fomos em frente, e depois de alguns erros e acertos chegamos a Campo Grande, para finalmente contemplar Mossoró ao nosso lado, na passagem para Areia Branca. Aqui, novamente comemos um panelão de sopa, feito para nós. Ainda hoje não sabemos qual das duas sopas era mais gostosa; a de Areia Branca ou a de Martins? Acho que teremos de retornar para dirimir essa questão.

Passamos 2020 – o ano que não existiu – em branco. Mas em maio deste ano teremos nossa quinta romaria. O roteiro já está praticamente definido: sairemos de Natal para a cidade histórica de São Cristóvão, situada a cerca de 40 quilômetros de Aracaju. Em seguida, seguiremos para Santo Amaro da Purificação, terra natal de Caetano Veloso & Cia, no recôncavo baiano. 

Não sei como chegaremos a Areia Branca, desta vez. 

Só viajaremos se todos estivermos vacinados, o que poderá não acontecer. No Brasil, prioridade é para as armas, não para vacinas. 

EvaldOOliveira

Sócio Correspondente do Instituto Histórico e Geográfico do RN

No ano de 1981 retornei a Areia Branca, 21 anos depois de minha ida para Natal. As casas da cidade me pareciam mal cuidadas, passando a impressão de que não recebiam uma demão de tinta há anos. Em toda a Rua da Frente, a triste imagem do descaso. Na foto abaixo, as cores sombrias do abandono.

ab-1981

Não lembro o ano do meu segundo retorno a Areia Branca, mas imagino ter sido pelos idos da década de 1990, quando fiz estas fotos. Havia sinais de mudança, mas para pior. Carcaças de navios e outras embarcações emporcalhavam a beira de um cais que, qual fiel depositário, guardava boa parte dos momentos felizes de nossa meninice. Esqueletos horrorosos de barcos e navios foram estocados na Rua da Frente, criando um visual de filme de terror.

Esqueletos 1

No meio daquela visão aterrorizante, quando tudo concorria para o conluio com o desespero, a suavidade de uma barcaça motorizada e de uma canoa tiveram o condão de amainar a tristeza que me deprimia. No contraponto, ao fundo, toda a grandeza de uma salina.

Navio e canoa

Ao que parece, somente a partir dos anos iniciais da primeira década do século XXI as autoridades locais tomaram providências para mudança daquela triste e desoladora realidade.

Hoje, do patamar da igreja podemos esticar o olhar para ambos os lados, sem o desespero de suportar aquela visão aterradora de um cemitério de navios em plena Rua da Frente.

Areia Branca 1981. Da desolação ao quase encantamento.

EvaldOOliveira

Sócio Correspondente do Instituto Histórico e Geográfico do RN

 

 

 

Saímos de Martins no início da manhã. Destino: a cidade de Campo Grande, que que desde o início constava do nosso roteiro obrigatório da romaria 2019. Este ano, Campo Grande teve de volta seu nome original. É que, até dois meses atrás, a cidade era conhecida como Augusto Severo. Ao chegarmos a Campo Grande, uma conjunção de interesses entre a fome e a sede nos empurrou para um almoço.

De passagem pelo centro da cidade, em busca de um restaurante, perguntamos a um jovem estudante onde encontrar um local para almoçar. Com seu palavreado poético, ele respondeu: Vocês seguem em frente e logo depois da suave curva do Teixeira há um restaurante muito bom. Seguimos em frente e logo após a suave curva do Teixeira nos deparamos com o Restaurante do Teixeira.

Estacionamos e nos dirigimos para almoçar, quando de repente apareceu uma senhora com a cara da Memeia – lembra de Amor a Três? (*) – E sem outras palavras nos inquiriu:

– Vão almoçar nesse local? – Falou com desdém.

– Sim. – Respondemos.

– Não façam isso. Aqui nós temos um bom restaurante. Vocês entram por essa rua estreita e do lado esquerdo tem o um restaurante maravilhoso, o Point Gourmet. Almocem lá! – Determinou.

Entreolhamo-nos, e sem qualquer discussão seguimos a ordem, digo, indicação daquela misteriosa criatura. O Point Gourmet era um boteco desarrumado, sem qualquer atrativo, as panelas expostas sob um telhado improvisado, tipo latada. Que Deus nos proteja, pensamos. E ali almoçamos. A mistura(carnes de frango e de bode) era colocada em um prato à parte pela dona do local, mesmo que fosse apenas um pedaço. Mesmo que insistíssemos, ela não colocava a mistura ao lado da comida. Vá saber por quê! Ah! Quase esquecia das moscas.

No retorno ao carro, apenas um comentário do grupo: Aquela senhora deve ser a dona do Point Gourmet. E retornamos rindo.

Saímos rápido, temerosos de que aquela senhora alterasse o nosso roteiro.

Areia Branca nos espera! E tomamos a estrada.

EvaldOOliveira

Sócio Correspondente do Instituto Histórico e Geográfico do RN

(*) AMOR A TRÊS 

 Amei Maria, gente. Amei de fato!

Não por seus olhos lúbricos, ardentes,

Nem pelo toque de seus lábios quentes,

Nem por seu corpo de infernal contato;

 

 Nem mesmo pelos ares insolentes

De um queixo fino e um narizinho chato.

De Maria, do amor que aqui relato,

Acreditem, irmãos, amei os dentes.

 

 Sim, os dentes! Punhais alabastrinos,

Alvíssimos, brilhantes, purpurinos,

De brancura mais branca que Deus fez!

 Eram pérolas, joias, diamantes,

Perfeitos, divinais, esfuziantes.

Os dentes de Maria… Todos três!!!…

 

Do livro O Doce Cárcere das Rimas

Autor: Liônio Guerra

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