Adauto Ribeiro era um homem pacato, sereno, preocupado com sua família, que não era pequena. Era a esposa e oito filhos (Gilton, Sônia, Genildo, Suêrda, Adauto Júnior (conhecido como Ribeiro), George, Gildásio, Gilmar e Gilvan), mas seu xodó era Sônia, a menina moça mais bonita da cidade. Jurineide de Antônio Calazans também mexia com a cabeça dos mancebos da Salinésia. A família Cavalcanti Ribeiro morava na Rua do Meio, em frente ao Cine Coronel Fausto, ao lado da casa de dona Edite Belém.

Nos anos finais da década de 1950, Adauto Ribeiro foi incumbido de dirigir o Ivipanim Clube junto com José Tavernard, figura de destaque na cidade. Tavernard era dono da melhor movelaria de Areia Branca, e morava na Rua do Meio, logo abaixo da pracinha, vizinho à casa dos padres, em frente ao Sesi. Era pai de Toinho Tavernard, uma das vozes mais bonitas da cidade, que depois virou pintor de sucesso.

No Ivipanim Clube aconteceriam reuniões importantes, encontros furtivos, festas de alta envergadura, inclusive os bailes de carnaval. Era famoso o Baile da Saudade, que antecedia o carnaval, em que a sociedade local se esbanjava ao som de marchinhas e sambas que se perpetuariam Brasil afora. Mas não havia só calmaria naqueles mares; havia também as procelas, como no hino de Nossa Senhora dos Navegantes.

Lembro que havia um rapaz, dono de um caminhão, que se achava a dentada da maçã da Apple. Esse jovem mancebo foi tirar uma garota para dançar. Ela, com delicadeza, falou que estava cansada, e recusou o convite. Algum tempo depois, a moça apareceu dançando com um rapaz bastante conhecido na cidade. O dono do caminhão, como fazem todos os recalcados, levantou-se e quase mata os dois jovens. Se ela não dança comigo, não dança com mais ninguém –, disse o rei da cocada de mel de furo

Certa noite, depois de uma demorada reunião, saíram seu Adauto e José Tavernard, acompanhados de Sônia. Sabemos que a usina elétrica desligava a luz às dez da noite. Na calçada do Ivipanim, tiveram medo de caminhar por aquelas ruas tão escuras. Não havia uma estrela no céu. Não lembro se era noite de cruviana. José Tavernard puxou seu revólver, mas não tinha uma bala. Seu Adauto tirou algumas balas de sua arma e as emprestou a José Tavernard, para que atravessassem a escuridão com um pouco de segurança.

Seu Adauto trabalhava na Mossoró Comercial, que à época funcionava como se fosse um banco, trocando duplicatas de homens de negócio, em especial dos comerciantes. Certa feita, teve que expulsar Antônio Custódio da empresa, por uma discussão em torno de uma duplicata. Chegando em casa, ele mandou devolver o presente que o comerciante havia dado para Sônia em seus 15 anos, comemorados em memorável festa no Ivipanim Clube.

Certa feita, estando com a família em Barra, passando uns dias férias, apareceu um ladrão no quintal. Seu Adauto, caladinho, pegou seu revólver e efetuou alguns disparos nas canelas do meliante. Dizem que até hoje ele corre pelas dunas de Tibau, gritando: É bala!!! É bala!!! Percebe-se que a pontaria de seu Adauto deixava a desejar, apesar de ser fã ardoroso de Durango Kid.

Adauto Ribeiro. Um executivo que se doou para a família. 

EvaldOOliveira

Sócio Correspondente do Instituto Histórico e Geográfico do RN