Já escrevi neste espaço que, assim como as pessoas, também as palavras podem se tornar escravas de outras, mais fortes e com exagerados poderes predatórios, sugando-lhes vida ou sentido, determinando a perda de sua existência de forma isolada.

Comecemos com Ledo engano. Aqui, ledo é escravo de engano. Gonçalves Dias, em Obras Poéticas, escreveu: “…ledos os pássaros gorjeiam”. Nesta frase, ledo tem o sentido de alegre, feliz. Não dá para imaginar alguém assumindo ter cometido um engano alegre, e muito menos feliz.

Crasso é outra palavra que podemos apontar como historicamente escrava. Erro escravizou esta palavra de tal modo que poucos poetas conseguiram libertá-la desse estado. Visconde de Taunay escreveu: …”Correspondentes à sua crassa ignorância”, em O Encilhamento. Aqui, crasso mantém o sentido de grosseiro.

Ululante também é exemplo de palavra escrava. Óbvio a mantém aprisionada, para que venha ganhar vida e sentido. E qual seria, então, o sentido de ululante isoladamente? Que produz ruído semelhante ao ululo. Ululo: ruído plangente ou grito; ganir; uivar.

E a pergunta que não quer calar, mas gritar: na palavra areiabranquense, o termo branquense seria palavra escrava de Areia, e por isso as duas não poderiam estar separadas?

Areiabranquense ou areia-branquense? Devemos escrever norte-rio-grandense ou norte-riograndense? Grandenses seria palavra escrava de rio?

Com a palavra os filólogos. Conversei com um deles, que confirmou endossar de forma integral esta concepção. Portanto, à luta os areiabranquenses de agora, os portoalegrenses, os matogrossenses e os riograndenses do norte e do sul.

Branquense , palavra escrava na busca de uma alforria.

Que tal uma discussão formal na Câmara dos Vereadores de Areia Branca, com a presença de especialistas?

Quero estar presente para assistir ao nascimento dessa nova e bonita palavra: Areiabranquense. Livre de todas as amarras.

EvaldOOliveira

Sócio Correspondente do Instituto Histórico e Geográfico do RN