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A pelada corria solto na Rua da Frente. Passa a bola, gritava um. Cuidado com Casca de Ovo!, gritava outro. Muita gente em volta, junto à calçada, assistia ao jogo. Os pés de fícus benjamin serviam de cobertura para aquela arquibancada mais que improvisada.

A certa altura, sem que os meninos percebessem apareceu alguém e sentou sobre a bola. Para tudo! Vamos tentar resolver esse imbróglio, falou um do grupo dos sem camisa. Nesse jogo havia dois irmãos gêmeos, que não lembro o nome. Um jogava no time dos sem camisa e o outro defendia a equipe dos  com camisa.

Voltemos ao imbróglio. Um rapazola com idade entre catorze a dezesseis anos, continuava sentado sobre a pelota, gesticulando desbragadamente, dando a entender que o jogo só reiniciaria se ele participasse da partida. Naquela época não se usava a LIBRA.

Os garotos se reuniam em pequenos grupos, discutiam algo, xingavam; alguém mais afoito provocava o adolescente e saía correndo, face à real ameaça de agressão. Quando tudo parecia perdido, meu irmão Heraldo, sem nada dizer, foi ao lado do rapaz e deu-lhe uma bofetada tão violenta na orelha que o jovem deu um forte grito e saiu em desabalada carreira, com os olhos esbugalhados, urrando feito um animal ferido.

Na calçada, um moço que assistia ao jogo profetizou: Ele ouviu! Essa pessoa conhecia o jovem, e sabia de sua condição de surdo-mudo. Falou que ele era muito agitado, e que morava na saída da cidade, pros lados da Ilha.

Alguns anos depois, em uma aula de otorrinolaringologia, tendo um crânio nas mãos, descobri-me sorrindo baixinho, no canto da sala, às voltas com o estudo do martelo, da bigorna e do estribo. Ah, e o caracol. Ele ouviu! Falei baixinho. E fiquei balançando a cabeça em sinal de confirmação.

Uma bofetada despertando, talvez, o primeiro som perceptível de uma vida.

EvaldOOliveira

Sócio Correspondente do Instituto Histórico e Geográfico do RN

No ano de 1961, foi anunciada uma luta de vale-tudo envolvendo um lutador de Natal, que não lembro o nome, e um lutador de Areia Branca. Estou em dúvida se essa luta, de fato, aconteceu em Areia Branca ou em Macau, onde morava Francisco, meu irmão caçula. Mas vale a pena ser contada, pelo inusitado do desfecho.

Foram colocados avisos dessa luta nas paredes das lojas, no muro da prefeitura e nos arredores da pracinha. A cidade se preparou para o grande evento. Também não lembro o nome do lutador de Natal. Sei que havia dois lutadores famosos, Aderbal e Bernardão. 

No dia do evento, muitas pessoas se dirigiram para o local do embate. O tatame, que fora improvisado com algumas cordas cercando o quadrilátero, era forrado com uma camada de serragem de madeira colocada sobre o cimento e coberta com uma lona, em uma alarmante e perigosa improvisação, patente em cada detalhe, assim como o desconhecimento das regras de segurança. 

As pessoas, de pé e espalhadas em torno do tatame improvisado, aguardavam com grande ansiedade o início da luta. Aguardaram cinco minutos depois da hora marcada (19hs), e o lutador local não aparecia. Ao lado do tatame, o lutador de Natal se exibia junto do seu empresário, com movimentos provocativos. E o lutador local não dava as caras por ali.

Decorrido um bom tempo do horário marcado para o início da luta, e o lutador local não aparecendo, as pessoas presentes começaram a se irritar, e a gritaria tomava conta do ambiente. É marmelada!!! É enrolação!!! Quero meu dinheiro de volta!!! E o clima de hostilidade foi se elevando.

A certa altura, tendo passado meia hora do horário, um homem sacou de uma faca e, aos gritos, obrigou o lutador a entrar no tatame e lutar com seu empresário. Apesar das desculpas do empresário, os dois foram forçados a lutar. Bofete pra lá, chute pra cá, queda de um lado. O lutador, depois de algum tempo, perguntou se a plateia estava satisfeita, e a resposta foi não. Depois de muitas bofetadas e do empresário machucado, a luta foi encerrada. 

Em dúvida, liguei para meu irmão Francisco, que morou em Macau naquela época, e ele me confirmou que essa luta aconteceu no ano de 1961, na quadra de esportes do Colégio do Padre Penha, naquela cidade.

Luta de Vale-Tudo, mas tudo mesmo. 

EvaldOOliveira

Sócio Correspondente do Instituto Histórico e Geográfico do RN

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