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Viajamos de Brasília para Fortaleza, e de lá para Tibau. No dia seguinte, saímos para Areia Branca, passando por Grossos. Estávamos em quatro veículos, todos com tração nas quatro rodas. Em Grossos, um belíssimo catavento nos anunciava o lado gostoso daquela cidade. Tomamos uma balsa e chegamos a Areia Branca na quinta-feira, último dia da quaresma. A cidade estava em desalinho, aparentando cansaço, com humor de pura ressaca, sem disposição para conversa. 

Passemos então pela igreja, pensei. Mas a igreja estava vazia naquele quase meio-dia. Ali, nada que lembrasse o burburinho da igreja da minha meninice. Ninguém além de nós. Seguimos em frente, em busca do pescador gigante da beira do cais. O pescador também não estava a fim de conversar. Desconversamos e fomos embora.

Saímos no rumo do Tirol, digo, da Praça do Pôr do Sol. Lá, o desencanto, a frustração daquele dia. O prédio me pareceu bonito, porém inadequado para o local. Como forma de compensação, fiquei sabendo que a prefeitura planeja construir um novo Tirol.

Quase sem opção de encontrar algo de bom gosto para mostrar para os amigos que me acompanhavam desde Brasília, alguns de Mossoró, com o desconforto tomando conta de nossas fracas disposições, rumamos na direção da maternidade. Depois do Ivipanim Clube, a visão da Cidade Maritacaca me encheu de entusiasmo e satisfação, com uma  pitada de orgulho a temperar meu ânimo. Afinal, há um  equipamento comunitário de peso em Areia Branca, onde se desenvolve um trabalho educativo com as crianças. Ali, semblante e cheiro de futuro. 

Interessado em mostrar a beleza das praias aos meus amigos, convidei-os a conhecer as praias de Redonda, São Cristóvão, Areias Alves, Ponta do Mel e Pedra Branca. Para fechar o passeio, fomos às Dunas do Rosado.

Mas foi na praia de São Cristóvão que tomei conhecimento de uma triste história de repulsa e ódio sem limites, entre duas pessoas. Havia um senhor que detestava uma pessoa do local. Ao morrer, essa pessoa foi enterrada no cemitério público. Aquele senhor, para não ser enterrado no mesmo local do seu desafeto, comprou em vida um terreno pequeno, ao lado do cemitério público. e construiu um cemitério particular, com um belo túmulo de granito preto. Quando morreu, seu corpo foi enterrado em seu cemitério, de costas para o cemitério público.

Aqui, o cemitério pequeno ao lado do grande.

Areia Branca. Cidade Maritacaca. Por um futuro melhor.

São Cristóvão. História de rancor e ódio eternizada em um cemitério particular ao lado de um cemitério público.

EvaldOOliveira

Sócio Correspondente do Instituto Histórico e Geográfico do RN

Vi um menino de canelas finas correndo pela Rua do Meio, calças curtas sustentadas por suspensórios, sonhos a realizar. “O mundo é vasto e o tempo é curto”, tinha como mantra. Por que e para onde corria aquele menino?

Vi outro menino preocupado com coisas a serem conquistadas, com poucas opções em sua bagagem. Limitações, desesperança, dificuldades. Saíra de uma rua na lateral do grupo escolar e corria para um local incerto, mas seguro.  

Vi um menino lutando por seus direitos, mesmo sem o sabê-lo. “Não faço isso porque é errado e injusto!” Mas era uma criança; o bodoque, curto. Soubera de que algumas crianças testaram uma funda, na Rua da Frente, e se deram mal. Na primeira vez que a usaram, acertaram a nuca de um homem que passava, e houve problema. Mas foi em frente com seu bodoque curto.

Vi um menino desejando o que não podia, um sonho distante, afrontando o conteúdo de seu portfólio de criança pobre. Mas corria, mesmo sem sabor para onde.

Vi um menino correndo devagar, transparecendo calma, esgueirando-se por caminhos estreitos, que ao fim se alargavam. Entrou no Beco da Galinha Morta, vindo dos lados da Rua das Almas, e se descobriu descortinando a igreja matriz e a pracinha. Seguiu em frente, no rumo do cais. O mundo a conquistar.

Vi um menino aflito, que corria em busca do ponto futuro; as incertezas e as opções se reduzindo. Janelas do tempo. Bondes da história. Essas coisas. Mas ele também seguiu em frente.

Vi um menino crescendo, formatando anseios, movimentando afetos, espargindo aura e fluidos benfazejos. Corria para o mesmo lugar que os outros.

Vi outro menino chorando, a dureza da vida a exigir além das forças, quase no limite do impossível, um alto preço a ser pago. Mas corria na mesma direção, balançando os bracinhos no alto, em sinal de regozijo. 

Hoje, na beira do cais, no ponto exato do espaço-sonho onde todos se reuniram para festejar, foi erguida uma bela escultura de um pescador gigante que também caminha em busca de seus sonhos. Ali, gritos de crianças, um viva à vida, e a constatação de uma difícil aprendizagem; uma luta quase isenta de compensações, até então. Ali, também o sentir-se feliz não pela chegada, mas pelo caminho percorrido.

Meninos de calças curtas sustentadas por suspensórios. O futuro real do hoje, bem além dessas quinhentas crônicas.

Evaldo Alves de Oliveira

Sócio Correspondente do Instituto Histórico e Geográfico do RN

Desde 2009 escrevo crônicas para este blog, criado pelo Prof. Carlos Alberto, apresentando e discutindo temas exclusivos sobre Areia Branca, suas estórias, seus tipos populares, seus vultos históricos, que são poucos. Com este texto, completo 500 crônicas apenas nesse blog. Continuaremos na luta, enquanto houver um ponto futuro a nos impulsionar.

Blog pessoal: AreiabranquiCidade – evaldoab.wordpress.com.

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