Texto de Francisco Rodrigues da Costa (Chico de Neco Carteiro)
Era assim que, em tempos idos, a gente chamava aquele beco que dava acesso à praia de Upanema. E, para se chegar até lá, somente em jipe de tração nas quatro rodas, como o de seu Alfredo Rebouças, gerente da Cia. Comércio e Navegação. Salvo engano, o único de então na cidade.
A não ser assim, o negócio era enfrentar aqueles mil e duzentos metros a pé. Além de ter que romper um areal frouxo, o transeunte se deparava com uns carrapichos pretos, ditos cabeças-de-boi, que lhe infernizavam a sola dos pés. Como sofreram os jovens da Cruzada Eucarística quando faziam seus piqueniques ali.
Na época do veraneio, algumas famílias, de certo prestígio, arranjavam o caminhão da prefeitura, que as conduzia até onde iniciava o areal; a pé, os veranistas levavam alguns utensílios e mantimentos, enfrentando certa dificuldade, mas valia pelo lazer que os aguardava. De número reduzido, as casas eram de taipa, chão de barro, cobertas com palhas de coqueiro.
Foi no ano de 1953 que o prefeito Manoel Avelino deu início à construção de uma estrada para beneficiar aquele caminho. Talvez pela falta de recursos financeiros, ou por não existir material próprio, foi utilizado o lixo coletado na cidade que era colocado ao longo do beco. Uma grande peste de mosca tomou conta do local, incomodando alguns moradores nas imediações. Jerônimo Rolim, cuja casa era situada bem à beira da passagem, foi dos que mais sofreram.
Para amenizar o problema o prefeito mandou que, logo após despejar o lixo, fosse jogada areia sobre ele.
Até que, com muito custo, conseguiu terminar a obra. Convém salientar que todo o serviço foi realizado com um caminhão, pás e picaretas, de vez que não se dispunha de trator ou qualquer outro mecanismo, a não ser o braço humano.
Concluída a empreitada, se não de primeira qualidade, mas de muita serventia ao povo areia-branquense. Logo apareceram coletivos, como a “Escandalosa” de Luiz Cirilo, o “Pau de Arara”, de Antonio Bernardo, fazendo a linha até a Casa do Farol, local da chegada. A meninada agora tinha mais um lazer além do gostoso banho na maré.
Se na ótica do ex-presidente da República Washington Luiz, “governar é construir estradas”, Manoel Avelino, com a construção daquele quilômetro e duzentos metros de estrada, facilitou chegar-se à praia mais perto de Areia Branca. Sem dúvida, um sonhado benefício pelo seu povo.
Hoje, o antigo e penoso percurso de um quinto de légua, transformou-se numa pista asfaltada, graças à ação de sucessivos prefeitos. Muitos dos que se deleitam, trafegando por ela nos seus veículos confortáveis, não sabem como sofreram os jovens da Cruzada Eucarística, tendo que enfrentar os espinhentos “cabeça de boi”, para chegarem ao agradável recanto do Atlântico.
10 comentários
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setembro 11, 2010 às 6:44 pm
Dodora
Este Beco eu lembro e nunca vou esquecer.
Depois de idas e voltas entre Areia Branca e o Rio de Janeiro, voltei pela ultima vez a AB em 1952 . Nao sabendo muito como me vestir, ou calcar ,para enfrentar os caminhos que me levavam a Ilha e a praia de Upanema, tao comentada pela sua beleza pelas minhas tias que eram areia-branquenses mas que viviam no Sul. Um dia ,fui convidada pelas minhas novas amigas, para irmos a Upanema, o que aceitei, contanto que vovo Zefa tambem nos acompanhasse.
Ela tomava conta de mim 24/7 .Vinta quatro horas os sete dias.
Nao tinha a menor ideia o quanto era penoso o caminho deste beco, e achei que nao ia precisar de sapatos na praia.Ate hoje lembro, como a sola do meus pes ficaram doloridos, cheio de carrapichos , e chorando, pedia ajuda a vovo.
Obrigada Manoel Avelino, .
Um abraco
setembro 12, 2010 às 11:38 am
Marco Juno Costa Flores
Querido e velho amigo Chico, que bom ler a sua crônica. Lembro-me com clareza do areal do “Panema”. Fiz muitas vezes aquele trajeto. Você esqueceu de dizer que a areia era quente feito brasa. Muitas vezes tomávamos emprestado uma das chinelas de alguém (que tinha duas), e vinhamos pulando num pé só. Quando ficávamos cansados trocávamos de pé, ou corríamos para uma sombra qualquer. Convém dizer que era comum írmos descalços, pois, em geral, íamos jogar futebol e não queríamos preocupação com pertences que deviam ficar na praia, distante da pelada.
Zé de Maria Fraga alugava umas bicicletas, o que podia ser uma alternativa de transporte. Ocorre que era muito caro a permanência na praia por duas ou três horas. Não se tinha sossego. Ficávamos contando o tempo e fazendo conta. Para não falar no areal onde devíamos empurrar a bicicleta na areia quente.
Mesmo com toda aquela dificuldade, eu era mais feliz indo ao “Panema” do que hoje, indo à praia em Côte d’Azur, na Riviera Francesa, porque o que conta não é o lugar, é a idade.
Forte abraço
setembro 12, 2010 às 1:09 pm
Dodora
Excelente comentario,primo .
Eu divido com o voce o mesmo sentimento.
Um abraco.
setembro 13, 2010 às 12:37 pm
Francisco (Chico)
Dr. Evaldo/Sr. Carlos Alberto, gostaria de saber se existe on-line alguma literatura que fale dos primórdios de Areia Branca, dos primeiros colonizadores, das pessoas que fizeram história em nossa terra? Quem habitava AB antes, índios, espanhóis, portugueses? Infizmente, não disponho de nenhum tipo de literatura que discorra sobre a história de nossa cidade. Agradeço este espaço.
setembro 13, 2010 às 1:50 pm
Carlos Alberto
Prezado Chico:
No Cânone Areiabranquense, https://areiabranca.wordpress.com/2009/01/04/canone-areiabranquense/ você vai encontrar livros sobre diversos aspectos da história de AB, mas ouso dizer que o livro de Deífilo Gurgel, “Areia Branca: a terra e a gente” pode ser considerado a “biblia” da nossa história. Você pode adquiri-lo neste endereço: http://www.estantevirtual.com.br/mod_perl/busca.cgi?pchave=areia+branca+a+terra+e+a+gente&tipo=simples&estante=(todas+estantes)&alvo=autor+ou+titulo
dezembro 31, 2010 às 6:50 pm
Encontros e reencontros: que em 2011 a alegria continue « Era uma vez em Areia Branca
[…] vieram os ilustres e bissextos colaboradores: Chico de Neco Carteiro e Marco Juno. Faço esta provocação deselegante com a esperança de que se encham de brios e nos […]
janeiro 10, 2011 às 12:48 pm
FRANCISCO FERREIRA JUNIOR
Gostaria de dizer algo que alguém deve ter esquecido, o meu avô, saudoso Manoel Gabriel casado com Maria de Tó com a qual teve 12 filhos, foi praticamente um dos fundadores dessa localidade chamada Upanema em época remota de nossa história. Quem não se lembra de ter ido comer uma galinha cabidela lá em dona Maria de Tó, embaixo daquelas árvores frondosas. Tempos austeros que ficam guardados na nossa memória. O colégio municipal Presidente Médici localizado no “FAROL”, onde foi o meu 1º lecionado, tenho boas recordações logo quando criança. Saia lá de nossa casa encostada a de minha vó, e atravessava o beco de seu Antonio Potilha para estudar, e na vinda parava sempre num pé de azeitona (Jamelão) no cercado de vovô e chegava em casa com a língua roxa. São essas coisas inesquecíveis que marcam em nossa vida, seria bom que os governantes pensassem mais em nossa história, que é com certeza uma das mais lindas desse mundo.
janeiro 13, 2011 às 5:07 pm
Dodora
Senhor Francisco Ferreira, va a primeira pagina do blog e click onde esta escrito,” sobre o blog “ou” Areia Branca na midia” e coloque o seu comentario, conte a historia da sua familia .Este blog e de todos areia-branquenses e o senhor sera bem recebido e tenha certeza que o blog ficara mais rico com a sua participacao.
Um abraco
Dodora
janeiro 13, 2011 às 8:34 pm
YASMIN
sai de areia branca pra morar em natal rn mais minha grande paixão é areia braca 😀
fevereiro 9, 2013 às 12:25 am
Severino Bento Júnior
Me lembro de umas árvores de tronco verde que margeavam o beco conhecidas como dedin do cão.