Crônica de Francisco Rodrigues da Costa (Chico de Neco Carteiro), publicada no jornal Gazeta do Oeste, em 9/9/2010.

Acredito que toda criança, quer nascida ou não na cidade em que viveu, guarde na memória os seus becos, ruas e esquinas. Por mais importante que se torne quando adulta, suponho que não os esqueça. Fernando Pessoa, por exemplo, não lembraria os de sua Lisboa encantadora? De Salamanca, por Miguel de Unamuno idolatrada, ele os olvidaria? Qualquer um dos dois Alexandre Duma conheceria, certamente, os de sua romântica Paris.

E Castro Alves, o condoreiro abolicionista, de sua memória jamais se apagariam as esquinas da Bahia, onde tanta poesia cantou.  Carlos Lacerda que, em cada esquina procurava um presidente para depor, na sua cachola tinha desenhados todos os becos e esquinas da Cidade Maravilhosa.

Deixemos os que já partiram desta vida. Vamos a São Paulo. Fico imaginando a Mogi das Cruzes, do meu amigo Mario Silveira. Mogiano até a medula, será que ele esqueceu a esquina da Cel. Souza Franco, ou a da Senador Dantas? Garanto que não, como viva na sua cuca está a esquina da Livroeton.

Vamos dar uma voltinha aqui mais perto da gente: Por Osair Vasconcelos boto até a mão no fogo, sem receio de chamuscá-la, como carrega no pensamento a esquina da Rua do “gango”, ou daquela rua que servia de marco para as duas turmas dos meninos guerreiros. Nenhum garoto, de um dos bandos, a atravessaria, sob pena de haver um tremendo quebra-pau. Isso acontecia na inesquecível Macaíba de Osair.

O diabo é quem discute com Paulo Balá. Este, além dos becos ruas e esquinas, tem vivo na lembrança um punhado de curral de Acari de sua meninice! Conhece tudo sobre a terra do ex-Cardeal dom Eugênio Sales.

E o que dizer de Manoel Onofre, “de camisa aberta ao peito, pés descalços e braços nus”, em suas andanças, esqueceu os da sua Martins de clima agradável? Du-vi-d-o-dó.

E Aluízio Alves Filho? A memória lhe traiu a ponto de esquecer o estádio Juvenal Lamartine, na Hermes da Fonseca, ou o Café São Luiz, na Rio Branco? Não! Estas duas avenidas da cidade do Natal, que destoam do título deste texto, estão fixas no quengo de Aluízio; exemplo de pai e avô e um grande saudosista natalense.

Afinal, chego aos becos, ruas e esquinas de Areia Branca. E inicio pelo beco mais famoso, cuja popularidade ultrapassou os limites da cidade: o Beco da Galinha Morta. Também muito falado, foi o “Beco do Panema”, que deixou de existir quando o libertaram das cercas que o ladeavam. Um prêmio para o professor Wilson de Moisés, se souber o nome do beco onde dr. Vicente Gurgel Dutra tinha seu consultório dentário; também já não existe; desapareceu com a demolição daquele quarteirão que ia da esquina da Mossoró Comercial à esquina da oficina do “Ferreiro”, avô de Naldinho.

Outro beco, que nem nome tinha, iniciava na esquina do bar de Clodomiro, na Barão do Rio Branco, terminando na Travessa dos Calafates. [Como indica a placa, hoje o beco tem nome: Rua Padre Afonso Lopes. A foto é uma cortesia de A.F. Miranda. Nota do Editor]

E por falar em esquina, a da loja de Pedro Leite dando a frente para a Rua Cel. Fausto, e o oitão para a antiga Almino Afonso. A esquina do Conselheiro Brito Guerra, na Rua do Progresso com a antiga Getúlio Vargas; a esquina da loja de Pedrinho Rodrigues, na Rua Barão do Rio Branco com a Rua da Frente.

A esquina da casa de Caboclo Lúcio, de frente para esquina da casa de Manoel Bento, ambas na Rua Cel. Fausto.

A esquina do Sindicato dos Estivadores na Rua Almino Afonso com a Rua de Trás, que era Silva Jardim e hoje é Francisco Ferreira Souto. A esquina do antigo clube Democratas na Rua Cel. Liberalino com a Travessa dos Calafates. A esquina do Sindicato dos salineiros na Machado de Assis, com a Rua Joaquim Nogueira.

Muitos becos, ruas e esquinas não foram citados aqui, mas ficam guardados no cofre de minhas saudades para outra convocação.