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Uma romaria a cada ano, conforme combináramos. Nosso destino, ao final, seria Areia Branca, justo na véspera da festa de Nossa Senhora dos Navegantes. O objetivo era visitar lugares que sempre desejamos conhecer ou, no contraponto, rever locais que já conhecíamos, porque ali jamais haveríamos de retornar, por falta de outra chance.
Essa cruzada foi iniciada em 2016, quando saímos de Natal e chegamos a Juazeiro do Norte, a terra do Padim Ciço. Rodamos por estradas de boa qualidade, passando por Tangará, Santa Cruz, Acari, Patos, Milagre e Barbalha. Depois de um dia de erros nas estradas, à noite estávamos em Juazeiro. No retorno para Areia Branca, a viagem foi cheia de atropelos, pelos erros que cometíamos pelos caminhos. Não olhávamos as placas nem os mapasyu.
A segunda edição ocorreu no ano seguinte, 2017. Saímos de Natal sem destino certo. Foi combinado que entraríamos no carro sem saber para onde iríamos, e quando nos deparássemos com os cruzamentos, faríamos uma rápida votação e tomaríamos o caminho escolhido. E assim foi feito. Saímos às 6:35 e fomos em frente. Santa Maria, Cachoeira do Sapo, Caiçara do Rio dos Ventos. Sem que percebêssemos depois do almoço passávamos por Aracati, e à noite estávamos ao lado de Fortaleza. Daí a Pacajus, Itapajé, Sobral, subimos a serra de Ibiapaba e chegamos a Tianguá, e à tarde entrávamos em Teresina, a belíssima capital do Piauí. Tudo por puro acaso.
Na viagem para Areia Branca, passamos por Piripiri, Ubajara, Ibiapina, Guaraciaba do Norte, Ipu, Hidrolândia e Santa Quitéria. Passamos por Itaperuaba à tarde e chegamos a Canindé à noitinha. Na volta, uma passagem por Toró, Quixadá, daí para Morada Nova e um almoço em Russas. Chegamos a Mossoró à tardinha, cumprimentamos a capital do oeste e passamos direto para Areia Branca.
Em agosto de 2018 fizemos nossa terceira romaria, saindo de Natal com destino a Areia Branca, contornando o mapa do Rio Grande do Norte. Passamos por Bom Jesus, antiga cidade de Panelas, Serra Caiada, ex-Presidente Juscelino, e fomos lanchar em Tangará. Daí, Parelhas para o almoço e Caicó para a janta e o pernoite. Saímos para Jardim de Piranhas, Serra Negra do Norte e Acari, onde degustamos a famosa cocada na quenga. Seguimos para Carnaúba dos Dantas, para uma visita ao Castelo de Bivar, uma estranha construção naquelas paragens ressequidas. Retornamos rápido para Natal, devido a um imprevisto com um dos nossos, para cumprimento de uma reunião anteriormente agendada. Dessa vez, não chegamos a Areia Branca.
A quarta romaria teve início em maio de 2019, saindo de Natal. Passamos por Serra Caiada, Tangará, Acari e chegamos a Caicó, onde almoçamos. Daí a Patu, Brejo do Cruz, a terra de Zé Ramalho, e nos dirigimos para Martins, onde jantamos um caldeirão de sopa, feita no capricho. Fomos em frente, e depois de alguns erros e acertos chegamos a Campo Grande, para finalmente contemplar Mossoró ao nosso lado, na passagem para Areia Branca. Aqui, novamente comemos um panelão de sopa, feito para nós. Ainda hoje não sabemos qual das duas sopas era mais gostosa; a de Areia Branca ou a de Martins? Acho que teremos de retornar para dirimir essa questão.
Passamos 2020 – o ano que não existiu – em branco. Mas em maio deste ano teremos nossa quinta romaria. O roteiro já está praticamente definido: sairemos de Natal para a cidade histórica de São Cristóvão, situada a cerca de 40 quilômetros de Aracaju. Em seguida, seguiremos para Santo Amaro da Purificação, terra natal de Caetano Veloso & Cia, no recôncavo baiano.
Não sei como chegaremos a Areia Branca, desta vez.
Só viajaremos se todos estivermos vacinados, o que poderá não acontecer. No Brasil, prioridade é para as armas, não para vacinas.
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EvaldOOliveira
Sócio Correspondente do Instituto Histórico e Geográfico do RN
Este ano, a Festa de Nossa Senhora dos Navegantes foi programada com todo o rigor para ser curtida em casa, com a famílias e os amigos. Os eventos iniciaram na quinta-feira, 6 de agosto, com show de bandas forró. No dia 7, sexta-feira, foi a vez de grupos de pagode se apresentarem. As lives seguem até hoje, dia 14, e sempre acontecem no período da noite. Amanhã, dia 15, a prudência manda que as pessoas fiquem em casa. A prefeitura montou barreiras restritivas para evitar o acesso de visitantes, turistas, peregrinos e romeiros à cidade.
Convite
De todas as minhas recordações da infância em Areia Branca, a Festa de Agosto é a que mais exige de minhas reminiscências. O povo nas ruas, a pracinha repleta de estudantes e adultos envolvidos pelo clima de festa que a todos envolvia. Era época de retorno de pessoas da cidade, de amigos distantes, de movimentação e alegria.
Neste 15 de agosto – Festa de Nossa Senhora dos Navegantes – não teremos as barraquinhas de tiro ao alvo, nem aquelas com bonequinhos de alfenim em formato de vaquinhas, mulheres, homens, meninos e meninas. Também não haverá barraca com suco de frutas, com maçã do amor ou guloseimas estranhas, com cheiro de xarope de groselha.
Pelas ruas, poucas pessoas se movimentando, no atendimento às orientações dos entendidos em pandemia. Nos bares, uma clientela sedenta e exasperada pelos limites impostos pela quarentena se prepara para um conhecido ritual, repetido nas noites quentes da Salinésia. A pracinha silente e vazia sinaliza que a agitação foi cancelada. Solidão e silêncio.
O rio Ivipanim, ao que parece, terá movimentação muito reduzida. A pandemia exige recolhimento e cuidados com a vida.
Porém não podemos deixar passar o dia 15 de agosto sem a emoção que flui do vai e vem das pessoas, dos reencontros, dos abraços. Aqui, alguns momentos da Festa de Nossa Senhora dos Navegantes dos anos de 2013 e 2014, para que não esqueçamos de tudo que emana de um evento em que o sagrado e o profano se misturam em uma exigente amalgamação.
A festa. A fé. Os (re)encontros, agora em casa. A alegria de um povo.
Sejamos, todos, fômites do bem, transmitindo confiança e fé no que virá.
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EvaldOOliveira
Sócio Correspondente do Instituto Histórico e Geográfico do RN
Semana Santa/2020 em Areia Branca. Onde ficaram os ramos daquele domingo em que a cidade inteira se mobilizava para encenar a chegada de Jesus à cidade de Jerusalém? A procissão do Encontro, que nos emocionava às lágrimas quando ainda éramos crianças, não aconteceu. As badaladas do sino na Sexta-Feira Santa, naquele cadenciamento triste, aconteceram?
Aqui, a lembrança dos famosos ladrões de galinha, que tanto azucrinaram a vida das pessoas em todas as décadas do século passado. Em meu recanto, imagino não terem acontecido estórias hilárias para contar no Sábado de Aleluia, como aquela narrada por Marco Juno com sabor de retrofilia. Vou contar um causo que me veio à memória.
Um comerciante da Rua da Frente, preocupado com suas galinhas, especialmente com o galo Ventania – não lembro ser esse o nome real do galináceo–, tomou emprestada de um amigo uma armadilha de pegar animais. Confiante, colocou a parafernália no galinheiro e montou-a com a ajuda de dois paus. Pronto, quero ver se algum ladrão vai mexer com minhas penosas – Resmungou o comerciante.
A certa altura da madrugada, os alaridos de Ventania chamaram a atenção do bodegueiro, que correu para o galinheiro, com um flash light(lanterna) na mão e facão na cintura. Ao abrir a porta do galinheiro, percebeu que a velha armadilha havia cerrado seus dentes de dragão na perna de Ventania, e quase a partira ao meio. A armadilha, por ser muito grande, não havia quebrado a tíbia do penoso, que ficou manco pelo resto da vida. Mudou até de nome, passando a ser chamado de Zé Leonel, o vizinho manco, também bodegueiro.
A pandemia do coronavírus mexeu com os hábitos e costumes do povo. O vírus apoderou-se da pena do tempo e tenta escrever um conto de horror, a seu modo corona de ser.
Uma história a ser contada por quem sair inteiro desse turbilhão.
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EvaldOOliveira
Sócio Correspondente do Instituto Histórico e Geográfico do RN