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O ônibus amarelo de fabricação Ciferal, com o motor ao lado direito do motorista, pertencente à Viação Nordeste, percorria a estrada de piçarra que o levaria ao seu destino final. Já havia decorrido 12 h desde a sua partida da capital do Estado. Ele se encontrava completamente lotado, com as 34 poltronas ocupadas e vários passageiros em pé. Não havia banheiro em seu interior e a temperatura no mesmo ultrapassava os 3o° C.
A paisagem vista pelo lado do motorista era como um lago com bastante espuma e logo atrás descortinava-se ao longe como pirâmides, vários morros de sal. O ônibus percorria mais um pouco o seu trajeto e víamos a entrada da salina, que nada mais era que uma estrada argilosa, formada por barro vermelho. Via-se uma placa branca onde se lia em azul o nome Sosal. Mais alguns kilômetros, que alguns teimavam em chamar de léguas, avistávamos casas esparsas muito pobres, construídas de taipa com cobertura de palha. Encontravamo-nos num lugarejo denominado Pedrinhas, com muitas cabras, bodes, ovelhas, jumentos e criação de galinhas. Alguns passageiros desciam lá, outros embarcavam e o ônibus percorria uma estrada em forma de passarela, onde ambos os lados eram cobertos por água. Do lado contrário ao motorista, no horizonte, víamos morros belíssimos, de cor branca. Há muito já estavamos em Areia Branca.
Passávamos bem em frente a uma estrada do lado contrário ao motorista e mais pessoas desciam em direção à mesma. Tratava-se da entrada rumo à praia de Upanema. Outros passageiros embarcavam e deslumbrávamos uma nova paisagem. Terminada a porção de água em ambos os lados e agora se enxergava o chão de areia de cores amarelada, marron e cinza. Víamos pés de algarobas, gado, criação de pequenos animais, deslumbrantes carros de bois e carroças puxadas por bestas.

FNM_1968

Passava por nós um possante caminhão na cor azul marinho e líamos a sigla FNM. Também passavam por nós um jeep Wills e um outro jeep Toyota Bandeirante. Viam-se também casas nas imediações do hoje Estádio Municipal Dr. Gentil Fernandes, com a característica ímpar de cada casa ter em sua parede uma lâmpada de cor vermelha. Estávamos na zona do baixo meretrício.
Alguém apontava para uma casa (do lado do motorista) e dizia:

-Naquela casa, aos sábados, funciona um terreiro de macumba.

O ônibus dobrava à direita numa rua de chão de areia, e víamos de um lado, uma Sra. com uma criança no colo catando piolho na mesma, e do outro, uma mãe amamentando sua cria. Adiante vi uma pick up F-1, belíssima, que me informaram pertencer a Joaquim Rebouças, proprietário de uma padaria numa esquina de cor azul marinho. Algumas pessoas observavam o ônibus e acenei para as mesmas, sendo prontamente correspondido com outro aceno de volta. O ônibus seguia em frente e dobrava na Rua Siva Jardim, parando bem no meio dela, entre um terreno baldio (antiga boate “Corujão”/”Rambol”) e a bodega de Chico Cirilo.
Passavam por nós um carro de boi e uma carroça carregada por um tanque metálico, acoplado por uma grossa mangueira de borracha. Nada mais que uma carroça pipa. A CAERN ainda não tinha chegado e não dispúnhamos de água encanada. Banho só de cuia, retirando água de uma sisterna ou cacimba.
Bem em frente a parada de ônibus existia um galpão, localizado entre a residência/salão de Geraldinha cabeleireira e a casa de Titinha Luna. Lá funcionava como se fosse uma rodoviária. Compravam-se os bilhetes e o motorista entregava alguns malotes. Parece que vinham malotes do Correio. Começei a observar que desde a estrada os postes eram de madeira. Desçi ali, quase em frente a casa de Chico Cirilo, e me encaminhei para a casa de tio Luiz Mariano, tendo um início inesquecível das minhas férias escolares na cidade.

maio 2024
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